Cientistas afirmaram nesta quinta-feira (4) que seria
"irresponsável" alterar os genes de células humanas reprodutivas
(óvulos e espermatozoides) usando uma nova técnica de edição genética
revolucionária, chamada CRISPR/Cas9. Especialistas em genética e bioética de 20
países estiveram reunidos em Washington durante três dias para discutir o
futuro da edição genética em humanos e concluíram que ainda é cedo para
utilizar o procedimento - é preciso haver um "amplo consenso social"
e resolver "questões de segurança" que ainda não foram adequadamente
exploradas.
"Pesquisas básicas e
pré-clínicas intensivas são claramente necessárias e devem continuar, sujeitas
a regras éticas e legais apropriadas. Se, no processo de pesquisa, embriões
humanos ou células da linha germinativa do gene sofrerem edição, as células
modificadas não devem ser utilizadas para estabelecer uma gravidez", diz o
comunicado divulgado após o fim do encontro, organizado pela Royal Society, da
Inglaterra, e pelas academias americana e chinesa de ciências.
Edição
simples - A conferência, chamada Cúpula
Internacional sobre Edição Genética Humana, foi organizada porque tem havido
uma acalorada
discussão na
comunidade acadêmica a respeito do que é eticamente aceitável em relação à
CRISPR/Cas9. A técnica, derivada das bactérias, ganhou fama em 2013 e foi usada
no ano seguinte para criar os primeiros macacos
transgênicos. Até o momento, esse é o mais simples, preciso e
eficiente editor genético conhecido e possibilita que partes do genoma sejam
recortadas, deletadas e substituídas como se fossem arquivos digitais de
computadores.
Com esse procedimento, em abril,
pesquisadores chineses criaram, pela primeira vez, embriões
humanos geneticamente modificados. Nunca na história a ciência
havia influenciado as próximas gerações humanas de modo tão rápido e direto.
Experimentos usando a técnica se multiplicaram nos laboratórios ao redor do
mundo, em diversas áreas da medicina e saúde - no fim de novembro, cientistas
americanos criaram com a técnica um mosquito
incapaz de transmitir malária.
Uma das grandes preocupações dos
cientistas é que as pesquisas em modelos animais sugerem que usar o método em
células reprodutivas levaria a mutações inesperadas em vários outros trechos do
genoma, criando "mosaicos genéticos". Além disso, há a preocupação
ética de que intervir em estágios iniciais do desenvolvimento do homem possa
trazer consequências desconhecidas para as gerações futuras.
Parecer
"responsável" - Durante as discussões em
Washington, o grupo de especialistas discutiu o potencial de novas terapias em
tecidos adultos, como células sanguíneas ou de músculos; a ética de modificar
embriões para pesquisas; e se a alteração do DNA de embriões humanos para
prevenir doenças hereditárias seria útil e aceitável.
A final das discussões, o grupo
advertiu que se as alterações genéticas forem introduzidas na população humana,
elas "seriam difíceis de remover" e levantaram a possibilidade de que
"'melhorias' genéticas permanentes para os subgrupos da população poderiam
exacerbar as desigualdades sociais ou serem usadas coercivamente".
Segundo Jacob Corn, diretor
científico da Innovative Genomics Initiative, grupo de pesquisas genéticas com
sede na Califórnia, nos Estados Unidos, o parecer do grupo foi muito
responsável. "O parecer também é ousado o bastante para reconhecer que
poderemos um dia ser capazes de lidar com esse assunto, embora leve um tempo",
disse à Agência France-Presse.
(Da redação)
http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/manipular-genes-para-a-gravidez-seria-irresponsavel-afirmam-cientistas
Nota do moderador desse blog sobre a materia em exposição
Julio Cesar disse:
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