>> Trecho da reportagem de capa desta semana
A capixaba Luciana (foto abaixo) é uma morena bonita, de sorriso largo e corpo escultural. Fala de forma calma e pausada, com um leve sotaque de sua terra natal. Aos 42 anos, ela já foi casada duas vezes e morou em quatro países além do Brasil: Estados Unidos, Espanha, México e China. Acompanhava o marido, um executivo alemão, em seus postos de trabalho. Hoje está separada e vive no Espírito Santo. Ela é mãe de um rapaz de 19 anos, aluno de engenharia, e de um garoto “muito esperto” de 7 anos. O mais velho mora sozinho. O menor está com o pai. Quando conversamos, ela não via os filhos fazia 33 dias. “Você está sem beber, né? Por isso demorou a ligar”, disse o caçula ao atender o telefone, na única vez em que falou com a mãe nesse período.
Luciana – esse não é seu nome verdadeiro, mas as outras informações a seu respeito são exatas – está internada, pela terceira vez em dois anos, numa clínica de recuperação para dependentes químicos no Rio de Janeiro. “Na primeira vez que vim para cá, sentia tremores, meu coração disparava, tinha lapsos de memória e anemia”, diz Luciana. “Quero me fortalecer para voltar às aulas.” Luciana vai para o 5o semestre de psicologia. Diz que a vontade que sente de ir à faculdade é uma conquista. Durante 20 anos, ela viveu afundada na bebida. “Bebia por tédio ou bebia para não comer, por medo de engordar. Depois, bebia porque não conseguia ficar sem”, diz. Na clínica em que Luciana está internada, há fila de espera para a ala feminina. “Em pouco mais de dez anos, aumentamos o número de leitos para as mulheres de seis quartos para 26 e ainda não conseguimos atender à procura”, diz o psiquiatra Jorge Jaber, dono da clínica. “O número de mulheres triplicou, enquanto o de homens aumentou em 50% nesse período.”
Essa não é a única constatação assustadora que emerge do encontro entre as mulheres e a bebida. Estudos recentes realizados dentro e fora do Brasil sugerem que está em formação uma tempestade perfeita, capaz de elevar dramaticamente a incidência de alcoolismo feminino. O primeiro dado alarmante revelado pelas pesquisas é que as mulheres estão bebendo mais do que jamais beberam, e que o problema se agrava ano a ano. As estatísticas também mostram que o hábito de se embriagar está começando mais cedo do que antes. Na adolescência, as meninas já bebem mais do que os meninos, algo que não se percebia no passado. Não se trata de um problema de pessoas mal informadas ou pouco instruídas. Os números são claros ao mostrar que o consumo excessivo de bebida entre as mulheres se concentra no topo da pirâmide de renda, nas famílias de classe média alta. Outra péssima notícia é que a sociedade ainda não sabe lidar com esse drama. Assim como a causa do alcoolismo entre as mulheres difere da causa entre os homens, o tratamento da doença também tem de ser outro, mas pouca gente entende isso.
http://epoca.globo.com/vida/noticia/2015/02/mulheres-nunca-bbeberam-tantob-nem-comecaram-beber-tao-cedo.html
Vídeos no YouTube mostram apenas lado glamouroso das bebidas alcoólicas,
diz estudo
RIO - Os muitos vídeos de humor e clipes de música
pop que contêm cenas de bebedeira podem estar influenciando o comportamento de
adolescentes e jovens adultos. Um estudo recente sobre vídeos do YouTube
revelou que grande parte das peças que exibem consumo de bebidas alcoólicas
combinam “porres homéricos” com humor e sensualidade, e raramente mostram as
consequências negativas disso. Esse retrato nada fiel da realidade pode estar
levando os jovens a beberem cada vez mais.
— Os jovens podem ser muito impressionáveis —
adverte Primack. — Quando eles vêem o álcool sempre relacionado a humor,
sensualidade e consequências positivas, tomam essas associações como
verdadeiras. Já o adulto consegue analisar mais criticamente as mensagens. Por
isso, é importante que os pais e professores ensinem esse tipo de análise
crítica a seus filhos e alunos.
Segundo Primack, que publicará o resultado de seu
levantamento na edição de março da revista “Alcoholism: Clinical &
Experimental Research”, vários estudos já relacionaram filmes que contêm abuso
de álcool com o comportamento dos espectadores na vida real. Mas, até então, o
YouTube ainda não havia sido estudado nesse contexto com grande rigor. Então
Primack e seus colegas selecionaram os 70 vídeos mais relevantes e populares do
portal relacionados à intoxicação alcoólica. Depois, criaram 42 códigos em seis
categorias: características do vídeo, caráter sócio-demográfico, representação
da bebida alcoólica, grau de uso do álcool, as características associadas ao
álcool e as consequências do álcool.
— Os 70 vídeos têm aproximadamente quatro minutos
de duração e, combinados, foram vistos um terço de um bilhão de vezes —
ressalta Primack, para exemplificar o enorme alcance do conteúdo.
Os vídeos tendem a mostrar mais homens do que mulheres,
e quase a metade deles (44%) se refere a uma marca específica de álcool. Os
sinais de intoxicação aparecem em 86% das peças, mas apenas 7% dos vídeos se
referem à dependência do álcool. A pesquisa também constatou que os clipes
ganham mais “curtidas” quando o humor está presente, e seus espectadores ficam
com um “sentimento positivo” maior quando o nome de uma marca específica é
mencionado, quando álcool é mencionado e quando a sensualidade está evidente.
No entanto, o sentimento não é tão positivo quando são citadas consequências
negativas — emocionais ou físicas.
PREVENÇÃO NÃO PODE SER ‘CHATA’
A psicóloga Daniela Schneider, representante do
Conselho Federal de Psicologia, não tem dúvidas de que os exemplos presentes da
mídia influenciam a população e ainda mais fortemente os jovens, que estão mais
abertos a experimentações.
— A prova disso é a própria campanha brasileira
contra o tabaco. Ela proibiu a propaganda na TV e restringiu a aparição dos
cigarros em filmes, clipes etc. Depois disso, houve uma significativa no padrão
de consumo do brasileiro — opina a professora da Universidade Federal de Santa
Catarina, que, no entanto, aponta que a prevenção que bate na tecla do lado
negativo do álcool não tem se mostrado eficaz. — Em vez disso, seria mais eficaz
apresentar ao jovem outras possibilidades de prazer que não envolvam o álcool:
a cultura, o esporte, o lazer... A família e a escola são têm um papel
fundamental na hora de mostrar essas opções.
Diretora do Programa de Pesquisa da Família e da
Juventude da Universidade de Pittsburgh, Brooke Molina considera “relevante”
que bebidas de alto teor alcoólico (como vodca e uísque) apareçam com
frequência em vídeos de sucesso.
— O elevado teor de álcool dessas bebidas aliado à
pouca capacidade dos adolescentes de reconhecerem seus limites leva a um risco
grande desses jovens desenvolverem um hábito perigoso — analisa Brooke.
Apesar de, hoje, grande parte dos vídeos serem
feitos de maneira irresponsável, Primack e Brooke acreditam que o YouTube pode
ser usado para educar os jovens sobre a realidade do álcool.
— Seria um bom veículo para agentes de saúde
pública divulgarem material — sugere Primack. — Os vídeos deveriam mostrar de
forma mais precisa as consequências do álcool. Parece uma oportunidade perdida.
A Associação ALS marcou um golaço ao lançar o desafio do balde de gelo, o que
não exigiu muito dinheiro e chamou atenção para a causa.
Para Brooke, os resultados da pesquisa sugerem
maneiras de tornar as mensagens de prevenção mais interessantes e atrativas.
— É útil saber que os vídeos que contêm lesões ou
cenas de intoxicação alcoólica agradam menos, por exemplo — comenta Brooke. —
Sendo assim, precisamos pensar em maneiras de incorporar o humor, para atrair
os espectadores, e as consequências negativas do consumo excessivo, para
educá-los
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/sociedade/videos-no-youtube-mostram-apenas-lado-glamouroso-das-bebidas-alcoolicas-diz-estudo-15396043#ixzz3SQNavKby
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Julio Cesar disse:
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