domingo, 15 de novembro de 2015

Susana Naspolini se mantém positiva: ‘Não tenho pena de mim’




RIO — “Queria muito mais estar te ouvindo contar a tua história do que falando da minha”, diz Susana Naspolini, com seu sotaque do Sul. A jornalista diz que sempre foi assim, “mais de ouvir do que de falar".

— Gosto de saber como a pessoa está, o que ela pensa das coisas, ouvir sobre namoro, separação, filhos, doença, emprego — enumera.

Essa empolgação diante de histórias e de gente, Susana demonstra diariamente no “RJ Móvel”, quadro que apresenta no “RJTV”, ao vivo, em que vai atrás de problemas para, junto à comunidade e as autoridades locais, tentar resolvê-los. Na última sexta-feira, estava no Parque Eldorado, em Caxias, onde moradores pediam uma ponte nova. Já voltou 12 vezes a Belfort Roxo até resolver um caso. Foi 14 ao Colubandê, em São Gonçalo:

— Ninguém pede piscina térmica. Eles querem o básico, água, saneamento, asfalto. E quero que a autoridade vá ao local se explicar. Não vai por quê? Tem medo de morador?
Susana costuma chegar à redação por volta das 6h30m e sai para a rua às 8h30m. Na hora do jornal, faz a chamada ao vivo. No meio das pessoas, grita, reclama, contesta, pede satisfação. Algo que a deixa muito realizada, ela conta:

— Sou feliz na rua. Não tem preço que pague o que eu faço. Às vezes vou trabalhar triste, mas naquela manhã em que estou ali, me esqueço de tudo. Sou repórter, quero abraçar? Eu vou abraçar! Sou gente e gosto do contato. Outro dia, uma pessoa me falou: “Susana, não ganhamos asfalto, ganhamos dignidade”. Eu ganhei o dia. O triste é que isso mostra como o povo é carente de poder público e vê num jornalista a chance de pedir pelos seus direitos — lamenta ela

UNIVERSIDADE EM SC

De presente, Susana leva a amizade com os moradores. Já ganhou bolo, cafezinho, calcinha (de uma dona de confecção). Em seu WhatsApp recebe mensagens não só dos novos amigos, mas também de quem a acompanha dia a dia.

— Não são elogios vazios, falando da minha roupa, mas comentários sobre a atitude do prefeito, o jeito como reagi. O retorno é bom e rápido. Minha energia vem daí. Quando eu consigo resolver um caso, ando pela rua rindo — conta.

O bom humor de Susana permeia a entrevista, em um café na Gávea. Mantém uma atitude positiva mesmo quando fala de todas as “porradas” que levou. Não foram poucas. A primeira veio cedo, aos 18 anos, quando foi diagnosticada com um linfoma. Na época, tinha começado a cursar jornalismo na Federal de Santa Catarina (UFSC).

— Tranquei e fui fazer o tratamento em São Paulo, que durou um ano. A ficha não tinha caído até eu começar a quimio e me deparar com aquelas pessoas carecas. Meu cabelo caiu todinho. Sim, é uma porrada, né? Mas meu plano de vida é enfrentar o que for — ensina.

De volta à faculdade, trabalhou no SBT até se formar e depois foi para a RBS de Criciúma, sua cidade natal. Ficou três anos até que se mudou para a sucursal de Joinville, onde atuou dois anos como editora-chefe e apresentadora de jornal. Na ocasião, conheceu o futuro marido, Maurício Torres, que tinha ido transmitir um jogo de futebol.

— Passei a vir muito para o Rio, e quando começamos a falar de casamento, consegui um emprego na TV Vanguarda, em Campinas. Noivamos, e quando nos casamos, em outubro de 2001, vim para o Rio — relembra.

Começou na GloboNews em 2002, até que foi escalada para cobrir férias no “RJ Móvel”, de onde não saiu mais.

— Sempre gostei do jornalismo comunitário e sentia muita falta de estar no meio de gente, numa feira, num buraco (risos).

Em meio às mudanças, descobriu um outro câncer, na mama, no fim de 2010. Fez radioterapia e mastectomia total do seio direito. Ainda em tratamento, lidou com outro, em outubro: na tireoide, que elimimou com um tratamento à base de iodo radiativo.

Em 2014, Susana levou “mais uma porrada para a conta”: ficou viúva depois que Mauricio morreu, aos 43 anos, de taquicardia. Ela ficou com ele um mês no hospital em São Paulo.

— Em nenhum momento eu achava que ele morrer, sabe? Não penso assim. Nossa filha tinha 8 anos, e por causa dela, tive muita força, sabia que não podia me entregar.

Atualmente, Susana leva uma vida normal. Toma visitas e faz checkups com o oncologista. Mas não se priva.

— Não tenho pena de mim. Não fico culpando Deus por isso ou aquilo. Não digo que não choro ou não me descabelo. Mas os problemas estão aí, a gente escolhe como lidar com eles. Eu vejo pela perspectiva da saúde — enfatiza.


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Nota do moderador desse blog sobre a materia em exposição



Julio Cesar disse:


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