Após os ataques terroristas em Paris, o líder espiritual
tibetano disse à DW que não se pode esperar que Deus resolva os problemas
criados pelos homens, e pede mais atenção a valores humanistas do que ao
dinheiro.
Para seus milhões de devotos no mundo todo, o Dalai Lama, líder
espiritual do povo tibetano, é a personificação da humanidade e da compaixão.
Hoje aos 80 anos, Tenzin Gyatso, o atual Dalai Lama, foi agraciado com o Prêmio
Nobel da Paz em 1989 e é conhecido por suas décadas de luta pela autonomia do
Tibete.
Ele acredita que a sua tática do "caminho do meio", que evita
extremismos, é a melhor maneira de resolver pacificamente a questão tibetana e
promover a coexistência entre tibetanos e chineses. Dalai Lama fugiu para a
Índia em 1959 e, desde então, vive no exílio em Dharamsala, uma cidade no
estado indiano de Himachal Pradesh.
Em entrevista à DW, ele fala sobre seu papel como o Dalai Lama, a
questão tibetana e o aumento da violência global.
DW:
Como você avalia os ataques terroristas em Paris?
Dalai Lama: O século 20 foi
violento, mais de 200 milhões de pessoas morreram devido a guerras e outros
conflitos. Vemos agora o sangue derramado no século passado transbordar para
este. Se dermos mais ênfase à não violência e à harmonia, poderemos proclamar
um recomeço. A menos que façamos sérios esforços para alcançar a paz,
continuaremos a ver uma reprodução do caos que a humanidade vivenciou no século
20. As pessoas querem levar uma vida pacífica. Mas os terroristas têm vista
curta, e esta é uma das causas dos desenfreados atentados suicidas. Não podemos
resolver esse problema apenas através de orações. Eu sou budista e acredito na
oração. Mas foram os seres humanos que criaram esse problema, e agora estamos
pedindo a Deus para resolvê-lo. É ilógico. Deus diria: resolvam-no sozinhos
porque vocês mesmos o criaram. Precisamos de uma abordagem sistemática para fomentar valores
humanistas, que promovam unidade e harmonia. Se começarmos agora, há esperança
de que este século possa ser diferente do anterior. É do interesse de todos.
Por isso, vamos trabalhar pela paz em nossas famílias e na sociedade, em vez de
esperar pela ajuda de Deus, de Buda ou de governos.
Sua
mensagem principal sempre foi de paz, compaixão e tolerância religiosa, mas o
mundo parece estar indo na direção oposta. A sua mensagem não ressoou nas
pessoas?
Eu discordo. Acho que apenas uma pequena porcentagem das pessoas adotaram o
discurso da violência. Nós somos seres humanos, e não há base ou justificativa
para matar outras pessoas. Se você considera os demais como irmãos e irmãs, e
respeita seus direitos, não resta espaço para a violência.Além disso, os problemas que estamos enfrentando hoje são resultado de
diferenças superficiais entre crenças religiosas e nacionalidades. Somos um só
povo.
Vemos
líderes políticos obcecados com o crescimento econômico, mas que não se
importam com a moralidade. Você se preocupa com essa tendência?
Nossos problemas vão aumentar se não posicionarmos princípios morais à frente
do dinheiro. A moralidade é importante para todos, inclusive para religiosos e
políticos.
Você
diz que a abordagem do "caminho do meio" ("middle way") é a
melhor maneira de resolver a questão tibetana. Você acha que sua estratégia
acabará sendo bem sucedida?
Eu acredito que seja o melhor caminho. Muitos dos meus amigos, incluindo
líderes indianos, americanos e europeus, acreditam que seja o caminho mais
realista. No Tibete, ativistas políticos, intelectuais e estudantes chineses
apóiam a nossa política do "caminho do meio". Quando encontro estudantes chineses, digo-lhes que não estamos buscando
a independência da China. Eles entendem a nossa abordagem e sentem-se próximos
da nossa causa. Não é apenas no caso do Tibete; vivemos no século 21, e todos
os conflitos devem ser resolvidos pelo diálogo, e não pela força.
Quem
vai sucedê-lo como Dalai Lama?
Eu não estou preocupado com isso. Em 2011, anunciei oficialmente que seria uma
escolha dos tibetanos manter ou não a instituição do Dalai Lama. Se as pessoas
acharem que essa instituição deixou de ser relevante, ela deve ser abolida. Eu
não estou mais envolvido em questões políticas, estou apenas preocupado com o
bem-estar do Tibete.
A
Índia está passando por um aumento da intolerância religiosa. O que pensa sobre
isso?
Não é a imagem real da Índia. Apenas alguns indivíduos estão causando esse
problema. As eleições no estado de Bihar provam que a maioria dos hindus
acredita na harmonia e na coexistência.
http://noticias.terra.com.br/dalai-lama-sobre-paris-nao-esperem-ajuda-de-deus-ou-de-governos,8cce20421e13a176c01b619c0d2d783byvppitf2.html
Nota do moderador desse blog sobre a materia em exposição
Julio Cesar disse:
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