segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

ESPERANÇA CEGA

coluna da emmir
Não sei se você acolheu de Deus uma das maiores graças que um filho seu pode receber. Aquela graça que faz doerem e secarem os ossos, como dizem os Salmos. A graça que levou Francisco a exclamar, convicto: “Quem és tu, Senhor, e quem sou eu?” Uma graça que dói, que rasga, que – diria – nos levaria ao desespero se não fosse o que é: grande, imensa graça.
Refiro-me à graça de ver, à brilhante luz da Verdade, seu próprio pecado, sua podridão interior que se manifesta, por vezes, inadvertidamente, contra seu irmão e contra o Senhor.
Recordo-me de algumas vezes em que recebi essa dolorosíssima e preciosa graça de Deus. Escolho falar-lhe de dois retiros. O primeiro, retiro pessoal, quando pela primeira vez rezei com o livro “Deus quer limpar seu coração”, de Slavomir Biela, Ed Palavra e Prece e Ed. Shalom, que já havia lido. O fantástico livro parecia falar de mim, como aquela palavra de ciência exata, cortante, cauterizadora.
Após a primeira leitura orante, fiz mais dois retiros pessoais com o livro, fascinada. De ambos saí como descreve o salmista: com os ossos moídos. Que grande dor! Haveria cura para minha ferida? Haveria cura para as chagas que o pecado causara em mim? Como mudar? Como sobreviver com tantas cicatrizes do pecado? Com que cara voltar a olhar para Deus e para meus irmãos?
O segundo, foi em retiro comunitário, também através de livro que eu já havia lido. Isso mostra como o momento da graça vem inesperadamente, segundo os perfeitos desígnios de Deus. O instrumento foi o livro do Cardeal Bergoglio, Papa Francisco, “Sobre a acusação de si mesmo – o caminho da humildade”, Ed. Ave Maria. A consciência do meu próprio pecado iluminada pelo livro de Slavomir Biela foi aprofundada, revelada em detalhes, como se diz no Nordeste do Brasil, “cascaviada” – “cutucada” em movimentos circulares e firmes com a ponta de uma faca amolada. E lá estava eu outra vez, intensamente dolorida da cabeça aos pés a tomar remédio para dor, totalmente inócuo.
Em ambas as ocasiões, à beira do desespero, clamei a Deus, novamente com o salmista: “Quem curará minha ferida? Estou em abismo profundo! Ergo os olhos para os montes, de onde virá meu socorro?” Não via saída. Não via cura. Não via remédio para minha chaga. Estava aflita, sofrida, cega, surda, suplicando a Deus a graça do pranto para aliviar minha dor. Havia visto o quanto distante estava da vontade de Deus para mim! O quando havia ferido a Deus e aos meus irmãos, o quanto era ingrata!
Como se não bastasse, não conseguia enxergar, em nenhuma dessas ocasiões, qual a saída, o que fazer, para onde ir, o que dizer, como reparar minha culpa! Sentia-me despedaçada como Eva, como a pecadora pública aos pés de Jesus, como a adúltera pega em flagrante, como Bartimeu, tateando sem rumo e gritando por misericórdia. Era a desesperadora experiência da constatação da própria fraqueza e incapacidade de reverter a situação que me colocava entre a Vida e a Morte!
Tirei, então, os olhos de mim e os elevei para Deus. Teresinha me socorreu: “O que agrada a Deus em minha pequena alma é que eu ame minha pequenez e minha pobreza. É a esperança cega que tenho em sua misericórdia!” e a Palavra: “Convertei-vos e crede no Evangelho!
Meu pecado, naturalmente, não agrada a Deus, muito menos minha fraqueza. O que lhe agrada é que eu os ame, isso é, que os acolha e fique vigilante para não utilizá-los para pecar, mas para atrair… (aqui estava o tesouro!) a Misericórdia Divina! Essa é a definição de Esperança Cega! Não há razões em mim para esperançar! Não há razões fora de mim! Não há nada, absolutamente nada em mim que justifique ter esperança. Muitíssimo pelo contrário! A única esperança é a Misericórdia.
A esperança de um pecador é cega, como cega é a fé, a certeza acerca do que não se vê. Torna-se também pobre, vazia de si, torna-se a certeza cega do que não se justifica: a Misericórdia de Deus!
E a Misericórdia é um choque tão grande, tão profundo, tão imerecido, tão inesperado, tão amoroso, tão injustificado que nos converte e nos faz agarrar-nos ao Evangelho no qual ela se faz presente a cada linha.
Teus pecados estão perdoados!” (Assim, de graça!) “Vai, e não peques mais!” (Para o teu bem, para a tua felicidade, por amor a mim, em nome de nossa amizade!). “Converte-te e crê no Evangelho!” (Eis, aí, a saída, o caminho novo, a nova forma de viver depois de receber a misericórdia!).
Definitivamente, Esperança e Misericórdia se supõem! Ambas são cegas. A primeira, porque não tem nada humano em que se apoiar. A segunda, porque, por amor, escolheu não ver a desfigurada face do pecado em nós, mas a indescritivelmente bela Face da Salvação!



Maria Emmir Oquendo Nogueira
http://www.comshalom.org/esperanca-cega/
Nota do Moderador desse blog, sobre a materia em exposição

Julio Cesar disse:
Vejo que, nem precisei ler os doais livros que a autora precisou ler, para escrever isso aqui. O texto dela, já me encantou já me bastou por enquanto, confiar na Misericórdia de Deus. Meus irmãos, o que seria de nós, se não fosse a Misericórdia de Deus? Estaríamos todos perdidos, não haveria céu, não haveria nada. É amor demais. É um amor louco. Essa é a nossa esperança. A esperança que, em minha miséria, Deus vem em meu socorro. Deus me perdoa, Deus me deseja, Deus quer me salvar, quer me levar para o céu. Essa é a certeza que a minha não é vão, nada é vão. Tudo passa, somente Deus permanece

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