quarta-feira, 13 de maio de 2015

‘Eu me sinto mais vivo do que nunca’, diz médico brasileiro que foi ao Nepal ajudar sobreviventes



RIO — O médico paulistano Luiz Perez, de 30 anos, tinha visitado o Nepal duas vezes antes do terremoto de 25 de abril, que devastou o país. Apaixonado pela pequena nação do Himalaia, Perez fez um apelo no Facebook convocando voluntários para prestar ajuda aos sobreviventes. Três dias depois, ele e mais quatro médicos estavam embarcando para a capital nepalesa, Katmandu. Em entrevista ao GLOBO, o médico relatou dias de intenso trabalho em condições precárias na vila de Timbu, a 30 km da capital. E disse se sentir mais vivo do que nunca: “Não é um sacrifício e não me sinto melhor que ninguém”.

O que o motivou a sair do conforto de seu lar para prestar assistência no Nepal?

Já tinha ido ao Nepal duas vezes. A primeira, em 2006, durante a guerra civil, e em 2011, com meu pai. Desgraças acontecem diariamente em todo canto do mundo, infelizmente. Minha motivação para largar a rotina em São Paulo era maior nesse caso pois tenho um carinho muito grande pelo país e pelos nepaleses.

Como surgiu a ideia de convocar uma equipe de médicos voluntários?

O terremoto ocorreu no sábado. No domingo à noite, liguei para minha amiga Laura Azevedo, também médica e muito experiente em atendimento em situações adversas. Além disso, escrevi um texto no Facebook pedindo colaboração. Na segunda-feira, recebi uma mensagem da amiga holandesa Jessica Villerius perguntando para onde ela deveria enviar os mais de 3 mil euros de doação que conseguira. Aquilo me emocionou, pois eram doações individuais de europeus, para que brasileiros pudessem atuar no Nepal. O mundo conspirava para o projeto se tornar real. Na terça-feira, já éramos 5 médicos, com o reforço de Maria Luiza Ramos, Karina Oliani e Lucas Rimi. Partimos na quarta-feira.

Vocês passaram por alguma dificuldade?

Muita gente acha nobre sair da zona de conforto para fazer algo assim. Eu tenho que confessar que comigo é o oposto. Meu sonho era trabalhar a vida inteira em projetos como esse, sem estar filiado a uma grande organização. Foram dias de bastante trabalho, poucos banhos e dormindo em barraca. Mas me sinto mais vivo do que nunca. Sou muito grato à oportunidade que me foi dada de estar lá, trabalhando da forma que mais gosto. Não é sacrifício nenhum e não me faz melhor do que ninguém. Temos muitos amigos que gostariam de estar lá com a gente, mas não conseguiram, em função de família ou trabalho. Falo isso em nome de toda a equipe. Acho que todos temos oportunidades na vida, as mais variadas, de fazer algo para os outros. Não é necessário ser médico nem atravessar o planeta para isso.

Quanto vocês arrecadaram na página de financiamento coletivo de ajuda ao Nepal (confira aqui) e o que será feito com a verba?

Já conseguimos bater nossa meta mínima de R$ 28 mil e esperamos passar de R$ 50 mil. Todo dinheiro arrecadado será utilizado na reconstrução dos vilarejos que atendemos. Tivemos o privilégio de trabalhar com uma equipe multidisciplinar e muito séria. As pessoas precisam ter em mente que não estamos pensando somente em atendimento médico. A reconstrução do Nepal se fará em anos, e não em semanas. Os vilarejos que visitei estavam completamente destruídos. Todas as casas no chão. Estradas interditadas, pontes quebradas. É preciso lembrar também que a época das monções chegará mês que vem, provocando deslizamentos de terra e aumento das doenças infecciosas. O Nepal viverá um longo período de extrema dificuldade.

Você já tinha prestado ajuda semelhante em outros países?

É difícil atuar em outros países como médico, em função dos trâmites de validação de diploma. Exceções são feitas em casos de catástrofe, como esta do Nepal. Já participei duas vezes como médico do projeto Bandeira Científica, que leva médicos e alunos de medicina da Faculdade de Medicina da USP para regiões precárias. É um projeto interessante, que já acontece há muito tempo.

O que foi mais marcante para você no Nepal?

O que mais chama atenção é a serenidade do povo nepalês, a forma como eles lidam com situações adversas de maneira resiliente, com a cabeça erguida e extremamente generosos mesmo na total ausência de recursos. Devo voltar para lá durante as monções, numa viagem planejada com mais calma.



Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/mundo/eu-me-sinto-mais-vivo-do-que-nunca-diz-medico-brasileiro-que-foi-ao-nepal-ajudar-sobreviventes-16142506#ixzz3a2sA697A 
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Nota do Moderador desse blog, sobre a materia em exposição

Julio Cesar disse:

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