Na
manhã de 26 de novembro de 1989, Julio Cesar Guedes de Moraes, de 18 anos,
aproximou-se do Porsche azul parado na esquina da Avenida Paulista com a Rua
Augusta e, arma em punho, mandou que o motorista lhe entregasse o Rolex de ouro
que levava no pulso. A vítima, um executivo, passou-lhe o relógio, mas, assim
que o bandido se afastou, gritou: "Pega ladrão!". O ladrão chegou a
atirar, mas a polícia apareceu e o prendeu. Moraes passou oito meses na cadeia
até conseguir fugir. Voltou a roubar, assaltou bancos e acabou preso novamente.
Em 1993, quando dividia pela quarta vez uma cela abarrotada de criminosos de
todos os calibres, entrou para uma facção criminosa recém-criada. Fugiu, foi
preso outra vez e, em 1995, assassinou três detentos a golpes de faca junto com
catorze comparsas. Em 2002, depois de uma sangrenta troca de comando na facção,
Julio de Moraes, o ladrão que havia sido preso pela primeira vez ao tentar
roubar um relógio, já tinha outro nome e outro status: era Julinho Carambola, o
segundo homem do PCC, a facção criminosa que domina os presídios de São Paulo e
à qual se atribui a morte de centenas de homens, dentro e fora das cadeias.
A
transformação de Moraes em Julio Carambola é um exemplo extremo de como o
sistema penitenciário brasileiro é capaz de piorar os que nele desembarcam.
Durante dois meses, VEJA analisou os 1 306 processos de execução
penal dos criminosos mais perigosos de São Paulo, encarcerados na Penitenciária
2 de Presidente Venceslau e na Penitenciária 1 de Avaré. De cada dez detentos,
nove cometeram crimes repetidas vezes - os chamados reincidentes. O que a
análise da sequência e da natureza desses delitos revela é impressionante: três
em cada quatro reincidentes cometeram crimes mais graves a cada prisão. Em
outras palavras, o que o levantamento indica é que um bandido quase sempre sai
da cadeia mais perigoso do que quando entrou. Que um estelionatário vira um
traficante; um contrabandista, um sequestrador; um ladrão, um assassino.
Para
analisar essa evolução, a reportagem se baseou em três critérios: crimes contra
a vida são mais graves que aqueles contra o patrimônio; crimes com penas mais
altas são mais graves que aqueles com penas menores; e, em caso de prisões pelo
mesmo crime, uma diferença de escala também torna o crime mais grave - uma
prisão por posse de 2 quilos de maconha foi considerada "mais grave"
que outra por posse de 200 gramas, por exemplo. No Brasil, a letalidade de um
criminoso avança quanto mais ele passa por instituições cuja finalidade é
contê-la. E esse processo pode ter início bem antes da maioridade, como mostra
a história do adolescente H.A.S.
http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/presidios-a-escola-do-crime
Nota do Moderador desse blog, sobre a materia em exposição
Julio Cesar disse:
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