O Bispo de Marília (SP), Dom Luiz Antonio Cipolini, deixou a igreja
matriz de Adamantina, no interior de São Paulo, escoltado por dezenas de
policiais na noite deste domingo. O bispo, que foi à cidade comandar a missa de
Crisma, ficou por mais de 1h40 encantoado no interior da igreja, esperando que
milhares de pessoas, que o esperavam do lado de fora, se acalmassem. O motivo
da revolta dos fieis foi a substituição de um padre conhecido por suas ações
sociais junto a usuários de drogas e à comunidade carente. Segundo os
manifestantes, o padre Wilson Luís Ramos já havia sofrido preconceito racial
por ser negro.
Antes de sair escoltado, o bispo
enfrentou a revolta dos fieis já dentro da igreja. Foi vaiado por centenas de
manifestantes quando comandava a missa. No momento em que ele conduzia a
eucaristia, já no final da celebração, manifestantes levantaram cartazes e
começaram a gritar palavras de ordem em favor do padre.
O padre teria sido substituído pelo
bispo a pedido de um grupo de fieis ricos e conservadores, que tinham sido
substituídos pelo padre de cargos de coordenação da igreja, que ocupavam há 13
anos. O grupo estava descontente com a opção dada pelo padre aos pobres e
jovens usuários de drogas, que passaram a frequentar a principal igreja da
cidade desde que o padre chegara a Adamantina, em 2012.
Durante a missa deste domingo,
revoltados com a saída do padre, manifestantes também passaram a jogar moedas
no altar da igreja, enquanto gritavam a palavra “indignação” e frases pedindo
para o padre Wilson permanecer na paróquia. Diante do protesto e do barulho,
padre Wilson pediu que os manifestantes – na maioria jovens - parassem com o
protesto, mas não foi atendido. Eles continuaram gritando enquanto o restante
dos fieis – cerca de 800 - que ocupavam a igreja, lotada, os ajudavam batendo
palmas.
“Nunca vi uma coisa dessas. As pessoas
acabaram se esquecendo de que se tratava de um local sagrado. Mas acho que elas
têm razão porque o bispo até agora não deu uma explicação convincente sobre a
saída do padre. Se há culpado, o bispo é o culpado”, disse o comerciante
Orlando Ferrari. “Muitos pensam, e eu também, que se trata simplesmente de um
ato de preconceito porque o padre é negro, pois não há motivo algum para
substituí-lo”, disse um empresário da cidade, que pediu anonimato.
Tensão e reforço da PM
Ao
final da missa, a situação se tornou mais tensa do lado de fora, onde centenas
de manifestantes aguardavam o bispo sair para protestar contra a decisão da
igreja de retirar o padre da cidade. “Só queremos que ele nos dê uma
explicação, nos diga o que está acontecendo. Ele está desrespeitando os
paroquianos daqui”, afirmou um jovem.
Em grupos, com cartazes, apitos e narizes de palhaço, os manifestantes
gritavam frases contra discriminação racial, já que o padre Wilson relatou
diversas vezes o sofrimento que passou por atitudes preconceituosas por parte
de fieis de Adamantina. “Na cidade diziam que o galo que existe no alto da
torre da Matriz seria trocado por urubu”, contou o padre.
Uma hora e meia após o fim da missa e
sem que a multidão saísse de frente da Matriz, a Polícia Militar, que já tinha
alguns homens do lado de dentro, pediu reforços. Diversas viaturas chegaram e
dezenas de PMs deram cobertura ao bispo para que ele pudesse sair da igreja.
Ele aproveitou para sair por uma lateral onde havia um número menor de
manifestantes. Por volta das 23h30, o bispo teve de ir embora dentro do carro
de um sargento da PM, já que o seu carro foi alvo de vandalismo.
Segundo dia de manifestações
A manifestação da noite de domingo foi a segunda em dois dias. A população, que
já tinha feito abaixo-assinado com 10 mil assinaturas, abraçado a igreja e
escrito palavras de apoio ao padre nos vidros dos carros, fez uma grande
passeata na noite de sábado. Cerca de duas mil pessoas, muitas vestidas de
preto e carregando velas e faixas com frases pedindo o fim do racismo na
cidade, se concentraram na frente da igreja Matriz e, assim que a missa
terminou, saíram em passeata pelas ruas.
Na sexta-feira, o bispo expediu circular dando prazo para padre Wilson
deixar a cidade até esta terça-feira No domingo, dia 14, ele assume o santuário
Nossa Senhora de Fátima, na cidade de Dracena. Seu lugar em Adamantina será
ocupado pelo padre Rui Rodrigues da Silva. A circular pegou líderes da igreja
católica de surpresa porque na manhã de sexta-feira o Conselho Pastoral da
Paróquia havia se reunido com o bispo para lhe pedir clemência e sugeriu que
demorasse pelo menos um ano para fazer a substituição, a fim de não causar
“traumas” ou antipatia da população para com a igreja.
Primeiro padre negro da cidade
Parte dos católicos de Adamantina estão revoltados porque além de o bispo não
dar uma justificativa plausível para a saída do padre - o bispo disse em
entrevista à reportagem que decidiu pela substituição após consultar a
população e chegar à conclusão que o padre estava dividindo a paróquia -, a
dispensa do padre ocorre em plena época natalina da igreja e menos de dois anos
depois de o padre assumir a igreja.
“Além
de ele ser o primeiro padre negro a trabalhar na cidade, ele será o padre que ficou
menos de 2 anos na nossa cidade. O problema é que era um padre que agradou a
maioria da população, que estava muito contente como ele conduzia os fieis”,
contou um dos líderes religiosos da cidade. O mesmo líder enumerou as ações do
padre: “ele recuperou as capelas que estavam esvaziadas, construiu uma delas e
tinha uma forte ligação com as pessoas humildes, sem contar que aumentou a
contribuição do dízimo na cidade”, completou. “Por isso não entendemos essa
saída. Pelo que vimos o preconceito racial imperou na nossa cidade”, completou.
http://noticias.terra.com.br/brasil/cidades/sp-protesto-acua-em-igreja-bispo-que-substituiu-padre-negro,5ad4d8555492a410VgnVCM3000009af154d0RCRD.html
NOTA DO MODERADOR DESSE BLOG SOBRE A MATERIA EM EXPOSIÇÃO
JULIO CESAR DISSE:
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