"Não
consigo entender como, por um motivo tão fútil, ele tentou tirar minha
vida", disse à BBC Brasil.
Christian,
que também é biomédico, lecionava em uma escola da rede estadual na grande
Aracaju, em Sergipe. Uma semana após o incidente, o aluno se entregou à polícia
e confessou o crime. Ele foi condenado e deve cumprir pena máxima de três anos
em uma unidade de correção de menores. O professor está paraplégico e recebe
tratamento para superar o trauma físico e psicológico.
Apesar
de ter sido vítima de agressão pela primeira vez – em dez anos como professor
da rede estadual de ensino –, Christian diz que ameaças verbais a professores
são comuns e afirma que a falta de participação dos pais contribui para
violência nas escolas.
"Muitos
pais dizem que trabalham o dia todo e deixam a responsabilidade de educar pra a
gente. Mas, se os pais não educaram, não vou conseguir educar em um
semestre", disse.
"Um
exemplo típico é um pai ou mãe não orientar seus filhos a estudar para as
provas e fazer suas tarefas de casa. Quando chegam à escola, eles são cobrados
e não aceitam essa cobrança porque, em casa, onde deveria ser educado, ele não
cumpre suas obrigações."
A
violência contra os professores foi tema de uma série de reportagens da BBC
Brasil em preparação para as eleições de 2014. O caso do professor foi
destacado por leitores em nossas páginas de redes sociais como um símbolo do
problema.
O
tema ficou ausente dos debates entre candidatos aos governos estaduais e à
Presidência, mas casos como o de Christian continuaram surgindo no noticiário.
Na semana passada, a diretora de uma escola pública em Belo Horizonte foi
agredida por um aluno de 16 anos com uma barra de ferro.
Há cerca de um mês, outra diretora, dessa vez de
uma escola em São Paulo, teve de se afastar do trabalho após ter sido agredida
pelo pai de um aluno, que a deixou com hematomas no braço.
Longe da
sala de aula
Em dezembro, cerca de três meses depois do
incidente que deixou Christian paraplégico, outro aluno entrou armado no mesmo
colégio, a Escola Estadual Professora Olga Barreto, em São Cristóvão, na grande
Aracaju.
De acordo com a mídia local, o aluno ameaçou um
colega de morte, mas deixou a escola antes que a polícia chegasse.
"Quando o caso passou na televisão aqui em
casa, eu comecei a tremer e a chorar. Nunca fui assim, nunca fui tão
emotivo", contou.
Após 78 dias no hospital – 38 deles na UTI –, ele
diz que se considera bem de saúde, apesar da lesão na medula que o deixou sem
movimentos do peito para baixo. Christian faz fisioterapia três vezes por
semana, mas precisa de ajuda para realizar atividades básicas.
Apesar de torcer por uma recuperação rápida, no
entanto, ele diz não pensar em voltar às salas de aula do Ensino Médio.
"Me sinto inseguro em ficar de costas em uma
sala de aula. Confiar no inesperado pra mim é desesperador", disse.
"Me interessei pela profissão porque sempre
gostei de passar conhecimento para as pessoas. Ainda quero fazer isso, mas de
outra forma. Quem sabe no curso superior", disse Christian, que vem de uma
família de professores.
Ameaças constantes
Christian
diz que professores convivem diariamente na rede pública com ameaças de
agressão feitas por alunos, especialmente em bairros mais violentos.
"Ameaças
verbais e ousadia dos alunos acontecem em todo lugar, até em colégio
particular. Mas, nas escolas particulares, não acontecem ameaças de morte. Nos
colégios do Estado, isso é comum. (As ameaças são) de alunos para professores e
funcionários ou entre dois alunos."
O professor,
no entanto, disse nunca ter tido problemas até aquele momento – nem com o rapaz
que tentaria matá-lo. "Às vezes, um ou outro aluno queria chamar a atenção
enfrentando os professores, mas nunca cheguei a me sentir ameaçado, achando que
era apenas coisa de adolescente."
Hoje, no
entanto, a sensação é outra. "Minha mãe, que era professora, já se
aposentou, mas penso em minha irmã e meus primos, que ainda estão ensinando nas
escolas públicas".
Desvalorização
A
"desvalorização" da profissão por parte do poder público impede
"a criação de uma estrutura de segurança para a profissão", afirma o
professor.
"Boa
parte das escolas públicas do Estado de Sergipe, onde leciono, não tem
estrutura física. São muros quebrados ou caindo, portões quebrados, salas de
aula sem portas. Isso já gera uma total falta de segurança para professores e
alunos."
"No dia
da tentativa de assassinato contra minha pessoa, o aluno armado entrou e saiu
pela porta da frente da escola sem nenhum impedimento”, afirma. "Acho que
o Estado poderia colocar vigias e dar estrutura física para as escolas. E para
os alunos, acompanhamento diário de psicopedagogos."
Após o
ataque a Christian, a Secretaria de Educação anunciou uma comissão permanente
de acompanhamento da violência nas escolas, formada pela Secretaria de
Educação, professores, pais, funcionários não docentes e estudantes.
Desde então,
segundo o diretor do Departamento de Educação da secretaria, Manuel Prado,
foram realizados encontros de formação e orientação com diretores de escolas,
com professores e com alunos. Ele afirma também que a secretaria visitou 20
escolas em todo o Estado que apresentaram maiores índices de violência.
Christian,
por sua vez, também defende a redução da maioridade penal para 16 anos e pede
que "escolas abertas" sejam implantadas em rede estadual.
"Seria
importante que a escola tivesse mais abertura para a comunidade, fazendo mais
reuniões com os pais durante a semana, permitindo que as pessoas pratiquem
esportes nos fins de semana. Atualmente, não tem tanta abertura."
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2015/03/150311_professor_sergipe_violencia_cc
Nota do Moderador desse blog, sobre a materia em exposição
Julio Cesar disse:
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