sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

E quando a mulher separa-se do marido contra a vontade dele?



O Pedro é um velho amigo meu, participativo na sua paróquia, generoso como não se julga ser possível ser. Há cerca de quatro anos atrás, depois de 30 anos de casamento, a esposa dele abandonou-o. Pedro ficou arrasado: “Padre, eu não desejaria este sofrimento ao meu pior inimigo”, dizia.
Depois de terminado o processo de divórcio civil, vários parentes e amigos, muitos deles católicos, aconselharam o Pedro a tirar a aliança do dedo e “seguir em frente”. Os conselhos deles, em resumo, repetiam mais ou menos as seguintes mensagens: “Ela não vai mais voltar”, “O vosso casamento acabou”, “Há mais peixes no mar”, “Deus quer que sejas feliz”, “Não faz sentido ficares a sofrer assim”.
Pedro, e isto deve honrá-lo muito, não deu ouvidos a esses conselheiros. Ele apontou para a sua aliança e respondeu-lhes: “Eu sou um homem casado. Nós sabíamos o que estávamos a fazer no dia do nosso casamento. Sabíamos o que estávamos a prometer um ao outro e também a Deus. Sabíamos o que Deus nos tinha prometido”. Pedro mergulhou nos sacramentos. Ele não sabe viver sem a adoração eucarística, o terço e a misericórdia divina. “Eu não vou parar de rezar pela reconstrução da minha família até o dia em que eu morrer”. E, porque conheço o Pedro muito bem, eu acredito nele.
Estou orgulhoso do Pedro pela sua firmeza na decisão de pagar o alto preço da fidelidade. Estou orgulhoso do Pedro pela herança que ele está a deixar aos seus jovens filhos. Dentro de alguns anos, os filhos dele poderão dizer aos seus próprios filhos: “Quando a vida bateu com dureza no avô, ele não desistiu da avó e não desistiu de Cristo. Ele carregou a sua cruz e seguiu a Cristo até o fim. E, desta forma, não há como fingir que se segue a Cristo. O avô carregou a cruz dele todos os dias”. Que legado para os filhos e netos! Que dignidade no seu sereno sofrimento diário! Que generosidade na sua humilde esperança diária!
Pergunto-me o que é que algumas pessoas  poderiam dizer ao Pedro. Alguns diriam: “Pedro, sorria! Porquê tanta seriedade? Deus não espera isso de si! Deus sozinho não é suficiente para o seu coração. Porquê esperar tanto assim da graça de Deus? Não vai conseguir viver assim até morrer! Porque é que não faz o que é preciso para ser feliz? Por que não tirar o melhor de uma má situação, como tanta gente faz?”.
Tenho certeza de que Pedro responderia: “Mas eu sei o que nós prometemos e sei o que Deus prometeu. Deus é fiel e eu tenho que ser fiel também. E Deus está a ajudar-me a ser fiel!”
Sou quase obrigado a pensar que pelo menos algumas pessoas achariam Pedro um idiota ou, pelo menos, um homem constrangedor. Lembro-me da unção de Betânia, em Marcos 14,4 (“Alguns dos presentes, indignados, diziam uns aos outros: Por que este desperdício?”). Será que diriam ao Pedro que a sua custosa fidelidade é uma extravagância desnecessária? Pedro diria que apenas cumpriu o seu dever (Lc 17,10) – e que ele é um homem melhor graças a isso. Ele sabe que Deus, quando revela a Sua vontade, também concede a graça para que essa vontade seja vivida – e concede-a a todos aqueles que pedem essa graça. Pedro sabe que Deus revelou que, como homem casado, ele deve permanecer fiel até a morte. Pedro pediu essa graça e está a recebê-la.
Ainda assim, custa ao Pedro ouvir os apelos de amigos bem-intencionados e ler muitas opiniões ; opiniões que parecem sugerir que a sua fidelidade não é o que Deus manda, não é o que Deus espera, não é o que Deus ajuda a transformar em realidade. Dói-lhe acima de tudo que a fidelidade do próprio Deus, a generosidade do próprio Deus em conceder a graça suficiente para vivermos os Seus mandamentos, pareça ser negligenciada ou menosprezada por tanta gente, inclusive por muitos dos católicos. Pedro insistiria: “Eles falam da misericórdia de Deus. A misericórdia de Deus é encontrada na Sua graça, que nos é concedida para vivermos a Lei do Amor. A misericórdia de Deus nunca pode ser procurada nas desculpas inventadas para não se fazer o que o amor exige.”
Ao longo dos últimos quatro anos, Pedro e eu conversamos várias vezes por semana. Centenas e centenas de telefonemas. Eu sei que ele sofre mais quando é atormentado pelas pessoas mais próximas, que insistem para que ele “encare os fatos” e “siga em frente”. Ele perguntou-me muitas vezes: “Porque é que eles se incomodam com o fato de que uso a minha aliança e me comporto como o homem casado que eu sou?”
Eu tenho pensado muito nesta questão. Eu disse ao Pedro que algumas pessoas não gostam de vê-lo usando a aliança de casamento pela mesma razão que não gostam de visitar os doentes nos hospitais. Nos dois casos, elas são forçadas a lembrar-se da sua própria vulnerabilidade. Ao visitar um paciente numa cama de hospital, nós não ficamos inclinados a pensar: “Eu também posso ficar doente e morrer?” Não conseguimos suportar a ideia da nossa própria vulnerabilidade à doença; por isso, evitamos os “lembretes” de que a doença e a morte vêm para todos.
Da mesma forma, o abandono que Pedro sofreu por parte da esposa recorda-nos que todos nós somos vulneráveis ​​à decepção e à traição (e que todos nós somos capazes de decepcionar e trair). A dor de Pedro foi dilacerante nos últimos quatro anos e desejo-lhe o alívio; mas não à custa da sua alma. Pedro concorda comigo. Assim, ele confia-se aos tesouros da graça, que lhe são oferecidos pela Igreja fundada por Cristo. Ele vive a sua custosa fidelidade – diariamente – com a indispensável ajuda da graça de Deus.
E é isto o que assusta as pessoas. As pessoas olham para o abandono de Pedro e para a sua dor e afastam-se, como se afastariam de um paciente acamado para se esquecerem da doença e da morte. Elas olham para a dor do Pedro e pensam: “Podia ser eu”. É claro que essa perspectiva é aterrorizante. Imaginam que, no meio de uma dor tão grande, procurariam o caminho mais rápido para o alívio mais óbvio: “seguir em frente”. Se Pedro se rendesse, essas pessoas provavelmente dariam um suspiro de alívio, porque aquela desistência significaria que é inevitável a busca delas próprias por atalhos para escapar da dor, já que “toda a gente faz isso” e “Deus só quer que nós sejamos felizes”.
Eu suspeito que ao verem Pedro algumas pessoas ficam com medo e com ressentimento – medo porque ele foi traído; ressentimento porque ele se manteve fiel. Qualquer um de nós pode ser traído; sem a graça de Deus, qualquer um de nós pode ser um traidor. Se Pedro, pela graça de Deus, permanece fiel, então não é impossível permanecer fiel à difícil Lei do Amor – difícil sim, mas não impossível. Isto significa que a vontade das pessoas de seguir o caminho mais fácil é uma questão de escolha e não uma questão de acaso. Elas são realmente responsáveis ​​pelas decisões que tomam. E se alguém não consegue confiar na fidelidade de Deus, então é quase impossível que assuma a responsabilidade por essas decisões.
O Pedro, com o sustento da graça de Deus, deveria ser um tema de conversa séria para toda a Igreja, de agora até o final do próximo Sínodo. À luz da lei moral e da Sagrada Revelação, nós temos que dizer ao Pedro se Cristo o considera um fiel idiota, ou, como o próprio Cristo, um fiel amigo, que amou até o fim (Jo 13,1).

Pe. Robert McTeigue

http://blog.comshalom.org/carmadelio/49422-e-quando-mulher-separa-se-do-marido-contra-vontade-dele

Nota do Moderador desse blog, sobre a materia em exposição


Julio Cesar disse:

Eu entendo Pedro. Eu, assim como Pedro, também passo por isso. Há 4 anos estou separado de minha esposa. Há 4 anos vivo a castidade. Há 4 anos, vivo a fidelidade do meu matrimonio. Mesmo que a minha esposa viva outras realidades, eu não posso desistir do meu SIM a Deus, e a minha esposa.

Eu, assim como Pedro, enfrento situações constrangedoras. Situações difíceis. Mas, o que me sustenta, é Deus. Poderia seguir nesse exato momento, a vida que muitos irmãos homens seguem, quando terminam o seu casamento. Eu poderia, e tinha toda liberdade para tal movimento...mas não fiz, e nem farei. Não teria sentido a minha vida. Não teria sentido a morte de Cristo por amor a mim e a humanidade.

Muitas pessoas podem perguntar assim: “Deus deseja tua felicidade!” – respondo: - Eu sei! Mas a felicidade tem que ter algo verdadeiro, ordenado, Santo, e não uma espécie de fuga, para tentar tapa um buraco. Agindo assim, estarei dizendo que não ficarei por baixo. Irei fazer a mesma coisa: Eu posso, Eu quero, eu vou. Mas, e o céu? E a vida eterna? Diante de tudo isso, Deus conquistou o meu coração. O amor de Deus em minha vida é presente. Estou a suportar tudo. Tudo em nome do amor verdadeiro. Não desisto de minha família. Nada, vai mudar o ser pai, e o ser esposo. Mesmo que a decisão de minha esposa seja outra, nada do que ela fizer, vai mudar a realidade. Posso morrer tranquilo agora, morrei feliz, em saber que sou pai de dois homens, e esposo de uma única mulher.

Algumas perguntas ainda poderão surgir, tais como: “Deus não poderia unir-vos de novo? A família não é um bem maior de Deus”?  – Respondo: - Sim! Deus poderia nos unir de novo. Sim! A família é um bem maior de Deus. Pupila de seus olhos. Vamos olhar agora para a realidade de São Pedro. São Pedro era um homem casado, quando Deus o chamou para segui-lo. São Pedro deixou tudo, e deu a sua vida por Deus. São Pedro, desde toda a eternidade, foi criado para ser todo de Deus. São Pedro, não se pertencia. Mas, pertencia por completo a Deus. São Pedro NÃO deixou de ser esposo, e nem traiu o seu matrimonio. São Pedro foi fiel até o final a sua missão, a sua vocação. Acontece que, em nossa vida, existem caminhos nos quais não sabemos, mais, somente Deus sabe. São esses caminhos, para os quais Deus nos chama. Nada com Deus se perde. Tudo tem sentido, mesmo na dor. Deus poderia renovar o meu casamento. Deus poderia restaurar a minha família, e com isso, estar com a minha esposa e filhos. Deus poderia...Mas, a Igreja perderia um Evangelizador. Deus poderia fazer com que eu voltasse as minhas realidades antigas....Mas, muitas pessoas, ao redor do mundo, ficariam sem conhecer a Deus e o seu amor.


Assim, como São Pedro em sua realidade foi chamado, foi retirado para viver outra, assim, Deus faz comigo, faz com o Pedro dessa historia, faz com muitos homens e mulheres. Deus nos convida a ter com ELE uma relação mais intima, mais, doadora. Meus irmãos, nós não perdemos nada. Tudo o que tínhamos estar lá. Tudo pertence a Deus. Tudo é Dele, e não nosso. Nada pode mudar o que somos. Nem os erros dos nossos, altera aquilo que Deus abençoou. Deus nos tirou do meio dos nossos, porque ELE tem um plano de amor muito maior do que o nosso. Pode ser que a nossa visão se encontre agora muito reduzida. Mas, Deus ver muito mais. Deus sabe. O que nos cabe aqui agora é dizer como Maria: “Eis aqui o servo, ou a serva do Senhor. Faça em mim segundo a vossa vontade”. Ao chegar no céu, veremos todos eles. O nosso sim de forma radical, ajudará muitos deles a se salvarem. Pois, olhando para nossa radicalidade de vida, irão ver em nós, o novo homem, ou a nova mulher, cheio de Deus, e desejarão nos imitar, porque viram em nós, o Cristo que tudo vale a pena entregar, sem nada reter.

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