BRASÍLIA — Diante de críticas contundentes, o
Ministério da Educação já decidiu modificar o texto do novo currículo nacional
da Educação básica, chamado oficialmente de Base Nacional Comum Curricular. O
texto já recebeu cerca de 9,8 milhões de sugestões de alterações desde que
entrou em consulta pública, em setembro de 2015.
História deverá ser a disciplina com mais mudanças.
A configuração do conteúdo levou historiadores a apontarem um suposto viés
ideológico de esquerda na Base Curricular. No artigo “A Revolução cultural do
PT”, publicado ontem no GLOBO, o historiador Marco Antonio Villa aponta um
“duro golpe” no caso do ensino de História e explica:
“É um crime de lesa-pátria. Vou comentar somente o
currículo de História do ensino médio. Foi simplesmente suprimida a História
Antiga. Seguindo a vontade dos comissários-educadores do PT, não teremos mais
nenhuma aula que trata da Mesopotâmia ou do Egito. Da herança greco-latina os
nossos alunos nada saberão. A filosofia grega para que serve? E a democracia
ateniense? E a cultura grega? E a herança romana? E o nascimento do cristianismo?
E o Império Romano?”.
Villa diz ainda: “Toda a expansão do cristianismo e
seus reflexos na cultura ocidental, o mundo islâmico, as Cruzadas, as
transformações econômico-políticas, especialmente a partir do século XI, são
desprezadas. O Renascimento — em todas as suas variações — foi simplesmente
ignorado. Parece mentira, mas, infelizmente, não é. Mas tem mais: a Revolução
Industrial não é citada uma vez sequer, assim como a Revolução Francesa ou as
revoluções inglesas do século XVII.”
"DOCUMENTO RECHEADO DE EQUÍVOCOS"
Villa afirma que, segundo o MEC, o que importa “são
as histórias ameríndias, africanas e afro-brasileiras”. E ainda que “os
movimentos pré-independentistas — como as Conjurações Mineira e Baiana — não
existiram, ao menos no novo currículo. As transformações do século XIX, a
economia cafeeira, a transição para a industrialização foram desconsideradas,
assim como a relação entre as diversas constituições e o momento histórico do
país, isto só para ficar em alguns exemplos”.
Para o historiador, “o documento está recheado de
equívocos, exemplos estapafúrdios, de panfletarismo barato, de desconhecimento
da História. Os programas dos cursos universitários de História foram jogados
na lata de lixo e há um evidente descompasso com a nossa produção
historiográfica.”
O MEC admite que temas relacionados à História
Antiga voltarão à nova versão da Base Nacional Curricular. Mas as falhas
apontadas por especialistas no texto não se resumem a História. Foram apontados
também problemas graves em Português e Matemática.
Outros estudiosos concordam que no currículo de
História a principal falha do texto elaborado por uma comissão de professores
universitários, é de fato a ausência ou a pouca ênfase na História europeia,
que inclui temas importantes como o estudo da Grécia e da Roma antiga, além das
Revoluções Francesa e Industrial, contrapondo-se a um vasto conteúdo de
História do Brasil e da África, assinalando a importância de determinados
povos, como indígenas e escravos.
EX-MINISTRO ADMITIU PROBLEMAS
O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, e o
ex-ministro da Educação Renato Janine Ribeiro, responsável por apresentar a
versão em debate do currículo nacional, em setembro, já admitiram que há
necessidade de alterações no texto. Na época da divulgação, Janine disse que o
documento elaborado pelos professores convocados pelo MEC precisava ser
melhorado. O então ministro usou termos como “brasilcêntrico” e “africocêntrico”
para classificar o trabalho. Depois de assumir a pasta, Mercadante concordou
com as críticas, em audiência pública na Câmara.
Hoje, a presidente da Associação Nacional dos
Professores e Pesquisadores de História (Anpuh), Maria Helena Capelato, se
reunirá com o MEC para pedir prazo maior para a consulta pública, que termina
em 15 de março.
— Em alguns pontos, a proposta aparece muito
detalhada, nas revoluções Cubana ou Mexicana, por exemplo. Em outros, como o
Renascimento ou as Navegações, as menções são raras e vagas. É ótimo fazermos a
crítica do eurocentrismo, mas não se pode deixar de fora aqueles que estão
sendo criticados. Da mesma forma, concordamos com a inclusão de povos que são
relegados no ensino, como os índios, os Incas — afirma Maria Capelato.
Como Mercadante está em férias, o ministro interino
da Educação, Luiz Cláudio Costa, refutou ontem as acusações contra a Base.
Segundo ele, o documento em consulta pública é uma primeira versão que ainda
incluirá as contribuições que vêm sendo feitas. Em seguida, explicou Costa, o
texto ainda passará pelo crivo das redes de ensino estaduais e municipais, que
farão seminários, até ser encaminhado ao Conselho Nacional de Educação. Só
depois disso, Mercadante poderá assinar a Base para torná-la obrigatória.
— Não há qualquer chance de haver um viés
ideológico na Base Nacional Comum. O importante é acreditar no processo de
debate que vai melhorar a proposta inicial até se chegar ao consenso possível —
afirma Costa.
Denis Mizne, diretor-executivo da Fundação Lemann, que trabalha com projetos inovadores na área de Educação, disse achar natural a discussão sobre o tema, uma vez que o Brasil nunca teve um documento tão detalhado sobre o currículo da Educação básica:
— Sem entrar no mérito se temos
de falar mais do escravo ou da Grécia, ficou claro que há uma real dificuldade
de encontrar formas de ensinar História. Cabe à sociedade entrar no debate para
fazer as modificações necessárias.
Paula Louzano, pós-doutoranda na Faculdade de
Educação da Universidade de São Paulo, lamenta que o debate sobre História
ofusque problemas graves no currículo de Português e Matemática, considerados
base do ensino. A falta de rigor é uma das falhas, aponta Paula:
— No 1º ano, espera-se que o aluno conte até 30. Em
Cuba e em praticamente toda a Europa, é até cem; nos Estados Unidos, até 120. A
gramática só aparece de forma explícita até o 3º ano, por causa da
alfabetização, depois desaparece. Diante de críticas contundentes, o Ministério
da Educação já decidiu modificar o texto do novo currículo nacional da educação
básica, chamado oficialmente de Base Nacional Comum Curricular. O texto já
recebeu cerca de 9,8 milhões de sugestões de alterações desde que entrou em
consulta pública, em setembro de 2015.
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Nota do moderador desse blog sobre a materia em exposição
Julio Cesar disse:
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