RIO - Em meados da década de 1970, uma propaganda na televisão acabou
por cunhar uma expressão que até hoje não saiu de moda no Brasil. No vídeo, o
“maestro” do tricampeonato mundial Gérson acendia um cigarro e questionava o
telespectador: Por que pagar mais caro se essa marca de tabaco me dá tudo o que
eu preciso de um cigarro?, dizia. E terminava com a frase: “Gosto de levar
vantagem em tudo, certo? Leve vantagem você também!” A máxima acabou por criar
a “lei da vantagem” ou a “lei de Gérson” para justificar atitudes em que a
pessoa sempre se dá bem.
Em tempos bicudos de corrupção escancarada de políticos e agentes
públicos, diversas pesquisas e estudos tentam explicar se o comportamento dos
brasileiros de burlar certas regras e leis não estaria associado à tal “lei da
vantagem” aplicada no cotidiano das pessoas, sem que elas percebam que são
atitudes ilícitas.
Com ajuda de professores e especialistas, O GLOBO identificou alguns
“desvios éticos” praticados na sociedade e que deixam a falsa sensação de que
faz parte do DNA dos brasileiros querer levar a melhor em tudo, seja ao não dar
uma nota fiscal, tentar subornar o guarda para evitar multa, falsificar uma
carteirinha de estudante, furar fila, comprar produtos falsificados, bater
ponto para o colega, colar na prova da escola ou fazer “gato” na TV paga, entre
outros.
A MAIORIA ADMITE QUE JÁ FEZ ALGO DE IRREGULAR
Pesquisa realizada pelo Data Popular no
início deste ano revela que 3% dos entrevistados se consideram corruptos, e 70%
admitem já ter cometido ao menos um tipo de infração. E, enquanto 22% dos
brasileiros dizem conhecer uma pessoa corrupta, 80% afirmam conhecer alguém que
já cometeu alguma ilegalidade.
Em outro estudo realizado pela
Confederação Nacional da Indústria (CNI), a percepção dos entrevistados em
relação a forma de agir do brasileiro reflete como tratamos as pessoas, mesmo
as que nos são mais próximas: 82% acham que a maioria quer tirar vantagem, e só
16% dizem que as pessoas agem de maneira correta.
— O que tem é essa visão de que o
brasileiro sempre quer tirar vantagem, ele passa pelo acostamento, fura fila,
não devolve o troco, cola na prova, e isso afeta essa avaliação. As pessoas
podem defender uma sociedade sem corrupção, mas, nessas pequenas coisas, elas
não têm essa ética, e aí você começa a perder confiança. É uma confiança
desconfiada — conta Renato da Fonseca, coordenador da pesquisa.
Para o antropólogo Roberto DaMatta, de
maneira geral, as relações pessoais são postas acima das regras, das leis,
inclusive na política.
— Dependendo dos óculos que você usa,
da pessoalidade ou da impessoalidade, pode enxergar determinada atitude como um
crime, se for alguém que você não conhece, ou mudar essa classificação para uma
pequena infração ou delito, quando se trata de alguém próximo. Aqui há uma
elasticidade moral muito grande, que se estica mais ou menos conforme a
situação que se apresenta. No trânsito, por exemplo, respeito as regras, mas
todos os dias vejo as pessoas cometerem infrações, e elas sequer conseguem
enxergam isso, pois acham que dirigem melhor do que o outro.
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DELITOS QUE VOCE JÁ OUVIU FALAR
Um gari franziu a testa quando percebeu
que uma equipe de reportagem documentava o calote de passageiros em estações do
BRT em Santa Cruz, Zona Oeste do Rio. Ele fazia o seu trabalho — limpava a
sujeira da calçada em frente ao supermercado Guanabara —, mas não deixava de
tecer comentários sobre a “safadeza” dos passageiros. Depois de algumas
vassouradas e comentários de reprovação, a crítica social foi interrompida.
— Você também pula. Você também é
caloteiro! — exclamou o ocupante de uma van.
— Eu sou da prefeitura! Eu posso tudo!
— respondeu, às gargalhadas.
O costume de muitos passageiros em
Santa Cruz é entrar nas estações do BRT sem qualquer preocupação em pagar a
passagem. Durante dois dias, entre 9h30m e 10h30m, O GLOBO observou o
comportamento de usuários na estação Gastão Rangel. Homens, mulheres, crianças
e idosos burlam o transporte público. A média, assustadora, é de um calote por
minuto. Há os que justificam a atitude pela dificuldade econômica. Outros, por
sua vez, ficam revoltados.
— Que história é essa de fotografar?
Aqui todo mundo entra de graça! Nunca vi disso — reclamou uma passageira,
incomodada com o flagrante.
Fraude no ponto
Elias José Ferreira, ex-funcionário da
Câmara dos Deputados, está isolado em sua fazenda, em Minas Gerais, à espera de
uma decisão da Justiça. Ele é acusado de passar mais de 20 anos em cargo
técnico na Casa sem comparecer ao local de trabalho — de 1988 a 2010. Depois de
todas as fases processuais serem cumpridas, só falta a sentença para o desfecho
do caso. Entre outros delitos apontados pelo Ministério Público, está a
falsificação de assinaturas em folhas de ponto.
Em sua defesa, Elias alega que sempre
exerceu suas funções de casa, em Coromandel (MG), e colaborou com gabinetes de
políticos. A denúncia, entretanto, diz que seria impossível Elias prestar
serviços à Câmara enquanto acumulava cargo na Defensoria Pública.
“O cruzamento dessas informações leva à
chocante constatação de que as folhas de ponto das duas repartições registram a
presença em dois lugares ao mesmo tempo em nada menos do que 129 dias úteis
diferentes”, diz o MP.
Fuga da blitz Lei Seca
Quem nunca ouviu histórias ou até mesmo
presenciou alguém consultar o perfil @LeiSecaRJ no Twitter para escapar de uma
blitz da Lei Seca? No Jardim Botânico, Zona Sul do Rio, O GLOBO conversou com
frequentadores de bares e ouviu diferentes opiniões. A maioria se disse contra
o uso do aplicativo para burlar a lei, mas alguns admitiram o uso da ferramenta
após ingerir bebidas alcoólicas.
— É claro que eu sou contra o cara que
bebe uma garrafa de uísque e dirige. Eu uso quando tomo no máximo três chopes
ou uma taça de vinho. E só quando estou perto de casa. Acho que a lei deveria
ser proporcional. Uma pessoa que só comeu um bombom, por exemplo, não deveria
ser punida — diz Marta Souza, de 45 anos, frequentadora do Bar Rebouças.
Para ela, a lei é muito rígida, e
também serve a outros propósitos.
— Eu uso o aplicativo, mas sou a favor
da Lei Seca no sentido educativo. Acho que há uma indústria que utiliza a blitz
para arrecadar.
Habilitação comprada
Há algumas décadas “comprar” a carteira
de motorista era praticamente uma regra no Brasil. Hoje há mais controle e
fiscalização, mas, apesar disso, ainda há sinais de que a prática é
corriqueira, pelo menos no Rio.
Após investigações da polícia, foi
constatado, no início do mês, que 126 mil carteiras de habilitação do Estado do
Rio foram compradas. O número de pessoas que corromperam o sistema é tão
elevado que chega a representar quatro vezes mais a população carcerária do
Rio. Ou seja, na hipótese de que todos os motoristas sejam condenados por
corrupção (pena de 2 a 12 anos de reclusão) em regime fechado, simplesmente
seria preciso quadruplicar o número de vagas nas penitenciárias do estado, algo
impossível a curto prazo.
De acordo com as investigações, os
alunos pagavam até R$ 3 mil para não frequentar as aulas e conseguir a
carteira. Segundo a polícia, um software violava a chave de segurança do
sistema que controlava a frequência dos alunos.
Meia-entrada
Uma das práticas de corrupção mais
corriqueiras é a falsificação de carteiras de estudante para pagar
meia-entrada. Seja para ver um filme ou um show, pessoas que já não estudam
recorrem a esse tipo de prática. Segundo pesquisa do Data Popular, 15% dos
entrevistados já compraram ingresso com carteirinha de estudante falsa,
enquanto 20% disseram conhecer alguém que praticou este tipo de delito.
Para evitar fraudes, a lei da
meia-entrada chegou a ser mudada pelo Congresso Nacional. Uma cota limita em
40% a quantidade de bilhetes que podem ser vendidos pela metade do preço
praticado na bilheteria.
Segundo o presidente do Sindicato das
Empresas Exibidoras, Roberto Darze, a lei é positiva, porque “acaba com os
abusos que existem” no setor de entretenimento. Ele lembra que, sem a lei,
“quase 80% dos ingressos de cinema” eram vendidos como meia-entrada, todos para
supostos estudantes.
Sonegação de imposto
A sonegação fiscal é um dos problemas
enfrentados no país que comumente é visto com leniência por parte da população.
Segundo a ferramenta “Sonegômetro”, do Sindicato dos Procuradores da Fazenda
Nacional, só este ano, R$ 118 bilhões em impostos deixaram de ser arrecadados.
Para o procurador Achilles Frias, são múltiplos os fatores para que haja esse
rombo: desde o descrédito do poder público e o surgimento de casos de
corrupção, que inibem a falta de cooperação da população, até o sistema
tributário ineficiente e a falta de fiscalização.
— A sonegação no país é até certo ponto
incentivada, porque o governo não investe nos órgãos que deveriam fiscalizar a
sonegação. A Procuradoria Nacional da Fazenda, por exemplo, encontra-se
totalmente sucateada — diz Achilles Frias.
Para ele, além de uma reforma que
racionalize o pagamentos de impostos, é preciso que a cultura da população mude
em relação ao pagamento de tributos. Da classe mais pobre, que compra produtos
falsificados e sem nota fiscal, às grandes empresas, que burlam as regras e
enganam a Receita Federal.
— A questão cultural (da corrupção)
impacta, sim, nesse número exorbitante, mas é agravada pela falta de
fiscalização e controle do poder público — diz Achilles.
Segundo a “Sonegômetro”, cerca de R$ 16
mil deixam de ser arrecadados por segundo.
Hoje, há uma CPI que investiga
denúncias de fraudes contra a Receita cometidas por instituições bancárias e
grandes empresas, com ajuda de advogados e ex-membros do Conselho
Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), órgão do Ministério da Fazenda.
Produtos piratas
No camelódromo da Uruguaiana, no Centro
do Rio, a menos de 20 metros de duas patrulhas da Guarda Municipal, camisas de
time de futebol falsificadas são vendidas sem qualquer constrangimento, entre
outros artigos comercializados sem nota fiscal.
— A camisa genérica do Flamengo é R$
60. Já a original é R$ 120 — diz um dos vendedores. — Fica à vontade aí e leva
uma.
Pesquisa realizada ano passado pela
Federação do Comércio do Estado do Rio de Janeiro e pelo Instituto Ipsos
mostrou que, apesar de o problema persistir, o consumo de produtos piratas caiu
nos últimos cinco anos. Em 2015, 28% dos consumidores disseram ter comprado
produtos falsos, contra 52% em 2011.
Educação no trânsito
Ignorar o sinal vermelho, andar pelo
acostamento ou fechar o veículo ao lado. Essas são algumas das infrações
presenciadas por todos, com frequência, no trânsito. A educação dos motoristas
é um exemplo de como uns tratam os outros no Brasil. Para o antropólogo Roberto
DaMatta, é um retrato claro de que as pessoas procuram levar vantagem.
— No trânsito, eu respeito as regras,
mas todos os dias vejo as pessoas cometerem infrações na minha frente, e elas
sequer conseguem enxergam isso, pois acham que dirigem melhor do que o outro,
que podem fazer qualquer coisa se aquilo representar uma vantagem, por menor
que seja — diz o pesquisador.
Subornar o guarda
Segundo um estudo realizado em 2015
pela empresa Flyfrog, especializada em pesquisa de mercado, subornar um guarda
para evitar uma multa, entre outros delitos, é um comportamento mais aceitável
do que reclamar de Deus. O estudo, publicado em outubro do ano passado, conclui
que o Brasil se mostra muito influenciado por questões religiosas.
De acordo com outra pesquisa, esta do
Data Popular, ao responder à pergunta “Pagou propina para algum policial ou
agente de fiscalização?”, 7% dos entrevistados dizem que já pagaram, e 19%
dizem que têm algum conhecido que pagou.
Nesta semana, um homem de 49 anos foi
preso após tentar subornar policiais durante uma abordagem em Petrolina, no
Sertão de Pernambuco. Embriagado, ele ofereceu R$ 500 para ser liberado. Quando
foi flagrado, ele andava em zigue-zague na estrada.
PEQUENAS CORRUPÇÕES DO DIA-A-DIA
“Pequenas corrupções são violações, legais ou
éticas, que podemos praticar diariamente. Conscientes ou não, dos danos que
essas práticas podem gerar, elas fazem parte do nosso universo. A questão é
saber em que medida esses atos se convertem num problema. A resposta é... se
atingem e afetam um número expressivo de indivíduos.
Dois exemplos: se optamos por subornar um guarda de
trânsito para não sermos multados, evidentemente, que além da violação
normativa, estamos criando uma situação que atinge diretamente a nós mesmos.
Tanto num sentido positivo quanto negativo. Quando um funcionário público
utiliza a sua influência para conseguir uma vaga em um hospital para um colega
doente, então temos um ato que afeta a um maior número de cidadãos e
interessados. Há outros pacientes que precisam da mesma vaga!!
A pergunta que devemos fazer é “O que nos leva a
cometer pequenos atos corruptos?” “Por que condenamos a grande corrupção na
esfera pública e praticamos atos menores?” Uma das possíveis respostas é a
escassez de bens e serviços. Vivemos num país que abandona uma parcela
significativa da população e isso força buscarmos atalhos ou a darmos um jeito,
para podermos seguir o dia-a-dia. Obviamente que nenhuma prática corrupta é
aceitável, mesmo em condições de exclusão. A corrupção não pode ser a regra
para vida em sociedade, em nenhuma circunstância.
Disto deriva o questionamento, “Como é possível
impor limites a essas práticas?”. Temos, dentre as inúmeras alternativas, duas
possibilidades: uma que está associada diretamente a educação de ética nas
escolas e as campanhas de conscientização, que são eficazes e atingem um número
grande de brasileiros; e a outra é a punição. A punição no sentido de aplicar
sanções e/ou orientações e não mandar o cidadão para a cadeia, por 30 anos, por
ter cometido pequenas corrupções.
A equação não é fácil e envolve soluções
interligadas, mas em algum momento da nossa história teremos que nos debruçar
sobre qual é o caminho que queremos seguir: se o caminho estreito, que encurta
distância e facilita a obtenção de algo sem esforços, mas prejudica outros
indivíduos; ou a via regular, que permite a todos usufruírem, mas implicará em
esforços coletivos e algumas perdas individuais”.
Rita de Cássia Biason é cientista Política e
Coordenadora do Centro de Estudos e Pesquisas sobre Corrupção, UNESP/Franca.
A CORRUPÇÃO NOSSA DE CADA DIA
“Nosso cotidiano está cheio de pequenos delitos.
Imagine um motorista que faz uma conversão proibida e ouve alguém reclamar
dessa atitude anticidadã. Ele pode responder de duas maneiras: admitindo a
culpa, ou xingando quem reclama. Na primeira situação, quem cometeu a infração
reconhece a lei, sabe que a transgrediu. Teme levar uma multa e aceita, a
contragosto, tanto a reclamação do cidadão quanto a punição. Reconhece como
legítimas as consequências do delito praticado. Aqui, não cabe de modo algum
falar em corrupção.
Na segunda situação ocorre o inverso. O motorista
sente que a lei vale para os outros, mas não para ele, que pode fazer o que bem
entende. Do seu ponto de vista, não cometeu delito algum. Não tem medo de ser
punido porque sente que está no pleno exercício de seus direitos. Em uma
absoluta inversão de valores, quem deveria ser punido é quem reclama, e muitas
vezes parte mesmo para a agressão contra o cidadão que o “ofendeu”.
Quem precisa ter medo é quem está do lado da lei.
Se vier uma multa, será vivida como injusta. Aqui, sim, estamos diante do
efeito mais perverso da corrupção: a inversão dos valores que regem a vida em
sociedade. O delito deixa de ser vivido como um delito, e passa a ser vivido
como um direito, legitimado pelo sistema de valores mafioso.
Como se chega a isso? A transmissão de valores se
dá de cima para baixo. As figuras de autoridade instituem, através de seus
comportamentos cotidianos, uma cultura que determina o que é aceitável e o que
não é. Esses valores são internalizados e depois reproduzidos pelos demais.
Quando as figuras de autoridade se comportam de forma arbitrária dão início à
corrupção, entendida como o processo no qual a desqualificação da lei vai sendo
institucionalizada até se transformar em uma cultura.
A sociedade passa a ser regida por dois códigos
conflitantes. O da máfia, em que a corrupção se tornou um modo de vida e foi
naturalizado – é o caso do motorista que xinga o cidadão que reclama da
conversão proibida. E o da sociedade, em que mesmo quem comete o delito
reconhece que está submetido à lei”.
Marion Minerbo, psicanalista da Sociedade
Brasileira de Psicanálise de São Paulo
CULTURA CLIENTELISTA
“O individualismo e a cultura clientelista nos
levam a agir à base de pequenas vantagens ou ‘jeitinhos’ que, no final, se
revelam contrários a nós mesmos. Nos aborrecemos à frente da televisão com
relatos de corrupção com muito mais facilidade do que reconhecemos nossa
displicência como eleitores. Apesar disso, temos evoluído: 2013 foi o ano em
que a sociedade brasileira começou a se manifestar politicamente longe da tela
dos partidos. Tudo o que vemos hoje parte daquele marco histórico. As
manifestações contra o governo só cresceram quando ruiu a tela dos partidos de
oposição. Quem avalia que isso se deve a um crescimento de ideias totalitárias
não esteve nas ruas para ver o que realmente se passava. Um país que em cinco
anos vê a aprovação da Lei da Ficha Limpa, do Portal da Transparência, da Lei
de Acesso à Informação e da proibição das doações empresariais não pode se
sentir amesquinhado no combate à corrupção. Precisamos traduzir em nossas
próprias vidas as mudanças.”
Marlon Reis é juiz eleitoral, membro do Movimento
de Combate À Corrupção Eleitoral
PSICOLOGIA DA CORRUPÇÃO
“Todo comportamento social é determinado por normas
de conduta que nos são impostas pela sociedade onde vivemos. Denominamo-las,
Moral. Todo comportamento explicita valores que temos internalizado e que,
afetivamente, são essenciais para nossa vida. Denominamos esse conjunto de
valores, Ética. Família, escola, tradição, costumes, religião e as leis civis
têm a função de nos transmitir esses valores e normas. Na inter-relação social
o indivíduo se comportará com honestidade e justiça, quanto mais honesto e
justo for o contexto social onde viva.
Em todas as espécies, e assim também na nossa,
observamos o comportamento inato de enganar o outro. O animal engana outro
animal para sobreviver à predação. O ser humano engana o outro e também se
auto-engana. Enganar é, portanto, um comportamento instintivo que tentamos
domesticar, mas que, em verdade, nunca é eliminado completamente. A mentira é o
resquício mais simples desse impulso. Machado de Assis em Dom Casmurro diz que
“a mentira é tão involuntária como a transpiração”
Quanto mais denso for o conjunto de regras que nos
controlam mais cerceada será a liberdade de expressar nossos valores
individuais e mais opressora será a força que nos obrigará a abdicar deles em
prol dos valores coletivos. A cada dia, em todas as sociedades, os seres
humanos têm mais dificuldade em ser éticos. Somos obrigados a prescindir de
nossos valores pessoais em prol das normas morais impostas. E todo ser coagido
torna-se corrupto.Todo animal acuado tende a encontrar subterfúgios de evitação
e fuga. E disso nenhum ser humano escapa.
A cultura e religião ocidental nos ensinou que é
possível comprar com dinheiro, pagamento e suborno indulgência para nossos
erros. E também, que o número de ave-marias e padre-nossos depende do tamanho
do erro praticado. Deriva daí que quase todos nós achamos aceitável dar uma
caixinha ao guarda de trânsito para ele não escrever a multa, dar um depoimento
distorcido para beneficiar o amigo, concordar com o erro do juiz que beneficie
nosso time, mas consideramos inaceitável que alguém receba 20 milhões de
propina.
Quando cremos que podemos comprar o perdão para
nossos delitos, abre-se o caminho para o comportamento corrupto. O erro é estar
convicto de que existem delitos pequenos e grandes. Assim pensa o corrupto.
Nisso ele crê. Suas crenças determinam seus valores e suas atitudes.
A ética dos valores colide com a moral da conduta
naqueles que percebem a essência corrupta do comportamento. Dizia Ruy Barbosa:
“O problema do Brasil é a falta de indignação!”
Esdras Guerreiro Vasconcellos é Professor do
Departamento de Psicologia Social e do Trabalho da USP
http://oglobo.globo.com/brasil/corrupto-o-outro-18961820?utm_source=Facebook&utm_medium=Social&utm_campaign=O%20Globo
Nota do moderador sobre a materia em exposição
Julio Cesar Carneiro disse:
GOSTEI MUITO DA MATERIA. Em parte, é basicamente isso. Estamos sempre a reclamar
do outro, mais nunca olhamos para a nossa humanidade, nossa personalidade. Achamos
fascinante a atuação do Juiz Federal Sergio Moro, contra a corrupção. Fomos às
ruas vestidos de camisetas com a frase de apoio ao trabalho do Juiz, do MPF, da
PF. Mas, no campo pessoal, aquele lugar escondido, onde muitos não nos conhecem,
e praticamos a mesma coisa. Talvez, não seja no tamanho dessa corrupção. Mas,
as pequenas corrupções, também são erradas, e que podem SIM chegar algum dia
ser pior.
Toda essa imoralidade que vemos em nossa sociedade, foi providencial
para que nos acordássemos desse sono profundo em que estamos, ou até de fato contribuímos
com isso, quando há defesa nossa frente a corrupção e seus corruptores. A mentira
é uma arma do demônio, e ele sempre vai utilizar para que o humano perverta sua
mentalidade, e se afaste mais de Deus. O mundo carece de homens e mulheres
decididos a nada contra essa correnteza mundana. Homens e mulheres fortes, que
não se vendem por nada. Deus deseja levantar uma humanidade nova que poderá ser
sinal para os demais homens e mulheres desse mundo.
As pessoas estão perdendo a confiança na humanidade, porque elas só conseguem
contemplar a pior imagem possível. Ou, “se todo mundo faz, e é assim, também
vou fazer a mesma coisa, ou ser o mesmo”. Não podemos seguir o mesmo curso que
a humanidade estar indo pelo caminho errado. Deus nos chamou para a Santidade,
para uma vida nova. Mas, para isso, precisamos radicalizar a nossa vida, mesmo
que o outro não faça, ou que sejamos criticados, perseguidos, ou até mortos.
Vamos sempre inventar leis, e mais leis, e o ser humano NUNCA vai mudar.
O ser humano NÃO muda de fora para dentro. O ser humano muda de dentro para
fora. É a partir de dentro, do coração, onde somente Deus tem acesso, é que
pode mudar o ser humano. Deus precisa de cada um de nós, para sermos essa
semente para o irmão. Precisamos ser esse sinal de Santidade para o irmão.
Precisamos ensinar para eles, com a nossa vida, que vale a pena SIM ser Santo,
ser correto, amar o outro de forma ordenada. A politica, pode mudar SIM. A politica
precisa de homens e mulheres dispostos a serem diferentes do que esses que se
encontram lá. Os casamentos podem ser SIM ordenados para o amor, para
fidelidade, para o todo sempre. Basta que existam homens e mulheres dispostos a
viverem essa novidade de Deus para que os outros possam ver essa maravilha.
Encerro: Sem Deus os seres humanos NÃO podem nada.
Sem Deus NÃO existe sociedade nova, e nem curada.
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