Vaticano, 29 Fev. 16 / 06:00 pm (ACI).- O jornal oficial do Vaticano, L’Osservatore Romano, se pronunciou sobre o triunfo do filme Spotlight na premiação do Oscar e a mensagem que um de seus produtores dirigiu ao Papa Francisco ao receber o prêmio por melhor filme do ano.
“Este filme deu voz aos sobreviventes. E este Oscar amplifica essa voz, a qual esperamos que se converta em um coro que chegue até o Vaticano. Papa Francisco, é hora de proteger as crianças e restabelecer a fé”, disse o produtor Michael Sugar ao receber o prêmio.
O filme Spotlight trata sobre a investigação jornalística que revelou o escândalo de abusos sexuais na Arquidiocese de Boston, Estados Unidos, em 2002. Além do Oscar de melhor filme, ganhou o prêmio de melhor roteiro original.
Em um artigo assinado por Lucetta Scaraffia, LOR explica que o filme Spotlight não ataca à fé católica e inclusive considera como um sinal positivo que seus produtores confiem na gestão do Papa Francisco acerca deste tema delicado.
Spotlight “não é anticatólico como escreveram, pois expressa a comoção e a profunda dor que os fiéis enfrentam ao descobrir estas realidades terríveis”, indica Scaraffia.
Entretanto, esclarece que a narrativa do filme “não aprofunda na longa e perseverante batalha queJoseph Ratzinger, como Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé e como Papa, empreendeu contra a pedofilia na Igreja”.
Scaraffia admite que “um filme não pode contar tudo” e “as dificuldades que Ratzinger enfrentou somente confirmam o tema do filme, que é que com muita frequência as instituições eclesiásticas não souberam reagir com a determinação necessária para enfrentar estes crimes”.
A autora recorda que “as crianças são seres vulneráveis e, portanto, principais vítimas de abusos, inclusive nas famílias, círculos esportivos e escolas seculares. Nem todos os monstros usam batinas. A pedofilia não necessariamente surge do voto de castidade”.
“Entretanto, ficou claro que na Igreja alguns estão mais preocupados com a imagem da instituição do que com a gravidade dos fatos”, acrescentou.
Em seguida, Scaraffia precisa que “isto não pode justificar a gravíssima culpa dos que, enquanto eram vistos como representantes de Deus, usaram sua autoridade e prestígio para explorar os inocentes”.
A autora destaca o valor do filme ao contar estes detalhes e dar espaço “à devastação interior que estes atos geram nas vítimas, que já não têm um Deus a quem pedir ajuda”.
Sinal positivo
Para a autora, o chamado do produtor Sugar ao Papa na cerimônia do Oscar “deve ser visto como um sinal positivo: ainda há confiança na instituição, há confiança em um Papa que continua a limpeza iniciada por seu predecessor, que então ainda era cardeal. Ainda há confiança na fé que tem como centro a defesa das vítimas e a proteção dos inocentes”.
Em outro artigo publicado pelo LOR e assinado por Emilio Ranzato, destaca-se que Spotlight “não é um filme anticatólico, pois não se refere em si ao catolicismo, mas é provável que seja visto como um filme contra a Igreja porque seu tom normalmente tende a generalizar e generalizações são inevitáveis quando contam histórias em apenas duas horas”.
Segundo Ranzato, “é um filme que indiscutivelmente tem o valor de reportar os casos que, sem dúvida, devem ser condenados. E o faz em detalhe, sobre a base de uma documentação substancialmente séria e crível”.
http://www.acidigital.com/noticias/jornal-do-vaticano-se-pronuncia-sobre-o-oscar-de-spotlight-e-mensagem-ao-papa-61657/
A história que Spotlight não contou
DENVER, 01 Mar. 16 / 09:00 pm (ACI).- Foi no final de outono de 2001. A cobertura de notícias sobre os ataques de 11 de setembro perdia a sua força e meia dúzia de jornalistas de investigação trabalhavam juntos em uma sala de imprensa em Boston. Estavam reunidos em torno da seguinte grande história:
Desde o começo do verão, a equipe havia rastreado evidências acreditáveis de abusos sexuais cometidos por mais de 70 sacerdotes nessa Arquidiocese. Nenhum dos casos havia sido divulgado. A história era grande, mas ainda não era suficiente.
Segundo o filme “Spotlight”, o qual relata como Boston Globe divulgou o escândalo de abusos sexuais do clero em 2002, o editor Marty Baron não só estava interessado em dar um golpe na Igreja. Ele queria fazer mais dano.
Em uma cena chave, Baron disse a sua equipe: “Provem que os sacerdotes estavam sendo protegidos de ser processados e que eram designados uma e outra vez”.
O filme termina quando a primeira edição de Globe sobre o escândalo chega nas ruas no domingo, 6 de janeiro de 2002. A propaganda diz: “Igreja permite abusos dos sacerdotes durante anos: Consciente dos antecedentes de Geoghan, a Arquidiocese o designa de paróquia em paróquia”.
Como o título do filme sugere, o filme “destaca” (spotlights) o trabalho dos jornalistas para evidenciar a má gestão das denúncias de abusos sexuais em Boston ao mais alto nível. Entretanto, o que o filme não fez foi contar a história do que aconteceu depois disso.
Depois das revelações sobre as investigações de Globe, o Bispo de Belleville, Wilton Gregory, então presidente da Conferência Episcopal dos Estados Unidos da América, emitiu uma declaração formal expressando uma “dor profunda pela responsabilidade destes abusos cometidos por alguns de nossos sacerdotes sob nossa vigilância”.
Em junho daquele ano, os bispos dos Estados Unidos decidiram que seria necessária uma política coordenada e uma resposta da conferência episcopal, e aprovaram por unanimidade a “Carta para a Proteção de Crianças e Jovens”.
É importante compreender que, antes de 2002, a maneira pela qual uma diocese investigava as acusações de abusos sexuais estava nas mãos do bispo local (a Arquidiocese de Denver emitiu primeiro seu Código de Conduta em 1991).
Com a nova Carta, iniciaram procedimentos uniformes para administrar as acusações de abusos sexuais não só do clero, mas também de professores leigos, funcionários das paróquias e qualquer outro adulto que tivesse contato com a juventude em nome da Igreja. Em uma ação sem precedentes, comprometeram-se a prover um “ambiente seguro” para todos as crianças nas atividades patrocinadas pela Igreja.
Outros componentes importantes foram uma política de “tolerância zero” para abusos sexuais, investigação de antecedentes para todos os funcionários da Igreja, obrigação de informar às autoridades civis, a retirada imediata dos acusados de seus ministérios, melhoramento na formação dos seminaristas e, o mais importante, ajuda às vítimas.
Em 2015, a Conferência Episcopal dos Estados Unidos da América informou que 2,4 milhões de adultos e 4,4 milhões de crianças foram formados para identificar e denunciar abusos. Quase todas as dioceses estabeleceram um escritório para coordenar a formação acerca de um ambiente seguro e para proporcionar apoio às vítimas de abusos. Cada diocese faz as denúncias às autoridades civis e trabalha com a lei em casos de conduta sexual imprópria. De acordo com as cifras divulgadas pelos bispos dos Estados Unidos, a Igreja gastou 2,8 bilhões de dólares para indenizar às vítimas.
Desde 2003, o primeiro ano de aplicação da carta, a Arquidiocese de Denver formou a mais de 65.000 adultos e continua treinando cerca de 4.000 a 5.000 a cada ano. 23.000 crianças estão capacitadas e são treinadas a cada ano, em seu nível de grau correspondente.
A Arquidiocese de Denver também colabora com o Estado do Colorado em seu esforço a fim de combater o abuso de crianças em todo o estado. A novidade deste ano é um número de telefone para todo o estado (1-844-CO-4-KIDS) que qualquer pessoa pode utilizar para informar casos de negligência ou abuso de menores.
A série do Boston Globe sobre o escândalo de abusos por parte do clero foi exatamente o que todo jornalista espera que seja seu trabalho – o estímulo que cause a mudança em um sistema que está falhando.
Por que o filme “Spotlight” ignorou os efeitos duradouros que continuaram sendo feitos após a investigação do Globe? Não se sabe, mas é evidente que fizeram muito bem para corrigir os erros do passado e isso é uma vitória para o Globe, para as vítimas e para todos nós.
Este artigo foi publicado originalmente por “El Pueblo Católico” em novembro de 2015. Outro dos dados que o filme não conta é que o ex-sacerdote John Geoghan, acusado de abusar de dezenas de menores, foi condenado à prisão em 2002 e morreu assassinado dentro do cárcere um ano depois.
http://www.acidigital.com/noticias/a-historia-que-spotlight-nao-contou-35799/
Nota do moderador sobre a materia em exposição
Julio Cesar Carneiro disse:
Julio Cesar Carneiro disse:
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