Longos e dolorosos rituais de sacrifício humano tiveram um papel
fundamental na construção e manutenção de sociedades rigidamente estratificadas
ao longo da história. De acordo com estudo publicado nesta segunda-feira na
revista científica Nature,
quanto mais igualitário era um grupo, menor a probabilidade de que alguém fosse
imolado em sacrifício para manter a ordem social; quanto mais rígida e
estratificada a comunidade, maiores as chances de uma pessoa, normalmente de
classe baixa, ser escolhida como vítima. O sacrifício, que incluía rituais como
enforcamentos, esquartejamentos, espancamentos, mortes em fogueiras,
decapitações e esmagamentos, seria um meio utilizado por nossos ancestrais para
estabilizar e conservar a hierarquia e o status social.
Essa ideia, conhecida como
Hipótese do Controle Social, tornou-se popular no fim dos anos 1990, com
estudos de sacrifícios humanos em culturas americanas. O sacrifício humano - o
assassinato deliberado de um indivíduo com o objetivo de agradar ou aplacar a
ira de seres sobrenaturais - ocorreu em diversas sociedades humanas, como a
alemã, árabe, turca, americana, africana, chinesa e japonesa. Há, contudo,
muitas dúvidas sobre o que motivou esse ritual tão difundido entre os humanos.
O novo estudo, liderado por
Joseph Watts, da Universidade de Auckland, na Nova Zelândia, testou a Hipótese
do Controle Social analisando 93 culturas tradicionais provenientes dos
austronésios (civilização pré-histórica que habitou grande parte do Índico e
Pacífico, em locais como Taiwan, Madagascar, Polinésia e Nova Zelândia e
conhecida pelos pesquisadores como uma excelente amostra por ter uma ampla
diversidade ambiental e cultural). As estruturas sociais desses povos variavam
entre pequenas sociedades igualitárias, baseadas em parentesco, até grandes e
complexas sociedades políticas como a havaiana.
As crenças religiosas, assim como
as estruturas sociais, eram bastante diversas, mas tinham o sacrifício humano
como algo em comum: 43% das culturas estudadas apresentaram essas técnicas, que
incluíam métodos complexos como ser lançado da janela de uma casa e, em
seguida, decapitado ou ser esmagado por uma canoa recém-construída.
Das 93 sociedades estudadas, 20
eram igualitárias e delas, apenas 5 praticavam o sacrifício humano. Das 27
sociedades rigidamente estratificadas, 18 delas praticavam o sacrifício de
humanos, notadamente o de pessoas de classes baixas. De acordo com os
pesquisadores, os dados confirmam a Hipótese, trazendo "evidências de
modelos em que o sacrifício humano estabiliza a estratificação social, após ela
ter surgido", afirmam os autores no estudo.
Novas
sociedades - Segundo os pesquisadores, a maior
parte das culturas provenientes dos austronésios sobrepunha crenças religiosas
à política, uma vez que algumas sociedades acreditavam que seus líderes eram
descendentes de deuses. Para tornar-se um ritual, o sacrifício precisa ser
religiosamente motivado.
"O nosso estudo sugere que
os rituais de matança auxiliaram na transição dos pequenos grupos igualitários
de nossos ancestrais para as sociedades complexas e estratificadas em que
vivemos hoje", explicaram os neozelandeses no estudo.
(Da redação)
http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/como-os-rituais-de-sacrificio-humano-podem-ter-ajudado-a-manter-o-status-social
Nota do moderador sobre a materia em exposição
Julio Cesar Carneiro disse:
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