Após a queda dos mísseis, tempestades de
fogo engoliriam cidades ao redor do mundo, bloqueando o sol e envolvendo o
planeta em nuvens de fuligem.
As colheitas morreriam, as temperaturas despencariam, e
todos aqueles que sobrevivessem às bombas morreriam lentamente em meio às
ruínas.
Esta foi a terrível previsão feita pelo Dr. Carl Sagan em
1983, criando uma imagem que chocou o mundo e pode ter mudado a história.
O Dr. Sagan disse, “Abaixo das nuvens, praticamente todas
as fontes domésticas e selvagens de comida seriam destruídas”.
"A maior parte dos sobreviventes humanos morreria de
fome. A extinção da espécie humana seria uma possibilidade real.”
O cenário - amplamente explorado por aqueles que faziam
campanha contra a guerra - era arrepiante, e pode ter ajudado a neutralizar a
Guerra Fria.
O “inverno nuclear” foi um dos principais fatores que
confirmaram a ideia de que a guerra nuclear não seria, e não poderia ser,
vencida por nenhum dos lados.
Ele também ressaltou o fato de que a devastação da guerra
nuclear não se restringiria aos países donos das armas nucleares, como o Reino
Unido, os Estados Unidos e a União Soviética.
Sagan foi um dos membros de uma equipe de cientistas que
publicou em 1983 um estudo na revista Science, usando técnicas de
modelagem computacional para prever os efeitos de uma guerra nuclear de grande
escala sobre o clima da Terra.
O “inverno nuclear” - e a contribuição de Sagan para a
definição do mesmo - foi revisto na semana passada em um documentário do Retro Report em
colaboração com o New York Times.
Sagan - o membro da equipe que mais se envolveu com a
mídia - mostrou na época que mesmo que houvesse a chance da previsão estar
errada, não valeria a pena arriscar.
“As consequências globais da guerra nuclear não são algo
que pode ser verificado através de experimentos - ou pelo menos, não mais do
que uma única vez,” disse Sagan em outubro de 1983. “Talvez todos nós tenhamos
cometido erros nos cálculos, mas eu não apostaria a minha vida nisso.”
Em 1984 seis líderes mundiais - incluindo Indira Gandhi,
da Índia, e Miguel de la Madrid, do México - pediram que as nações com poderes
nucleares interrompessem os testes, classificando a corrida nuclear como um
“suicídio global”.
Fidel Castro, que anteriormente havia apoiado a empreitada
de Kruschev durante a Crise dos Mísseis de Cuba, mudou de ideia em relação às
armas nucleares graças ao inverno nuclear - assistindo a discursos de
cientistas sobre o assunto até 2010.
Em 1984 o trabalho de Sagan com o objetivo de popularizar
a ideia do “inverno nuclear” fez com que ele fosse convidado para conhecer o
Papa João Paulo II.
As descobertas da equipe norte-americana foram rapidamente
seguidas por pesquisas soviéticas sobre o mesmo assunto.
Mikhail Gorbachev disse posteriormente, “Os modelos
elaborados por cientistas russos e norte-americanos mostraram que uma guerra
nuclear resultaria em um inverno nuclear que seria extremamente destrutivo para
toda a vida na Terra; este conhecimento foi um grande estímulo para que nós, e
as pessoas de honra e moralidade, agíssemos em relação à situação.”
Em 1991 a União Soviética e os Estados Unidos assinaram o
Tratado de Redução de Armas Estratégicas (START, na sigla em inglês), que levou
a uma redução de 80% no número de armas nucleares estratégicas no planeta.
No entanto, a contribuição de Sagan ainda é considerada
controversa.
Muitos cientistas - incluindo alguns de seus próprios
colaboradores - acreditavam que Sagan havia exagerado os efeitos do inverno
nuclear, possivelmente por motivos políticos.
Até seu colega, o Dr. Richard P Turco - que inventou o
termo “inverno nuclear” - disse, “[A ideia de que o inverno nuclear acabaria
com a humanidade] foi uma especulação de outras pessoas, incluindo Carl Sagan.
Minha opinião pessoal é de que a raça humana não seria extinta, mas a
civilização que conhecemos certamente acabaria.”
Atualmente os pesquisadores ainda acreditam que uma
batalha nuclear poderia alterar o clima da Terra, mas não com a intensidade
prevista por Sagan.
Uma grande guerra nuclear poderia reduzir as temperaturas
em até 1,5 graus, e alterar o clima por décadas.
Pesquisadores da Universidade do Colorado, nos Estados
Unidos, acreditam que um ataque “limitado” no qual 100 armas nucleares fossem detonadas
poderia alterar o clima do planeta por 20 anos.
A liberação de fuligem na atmosfera levaria a décadas de
“geadas mortais” e mudanças nas estações da Terra.
Uma enorme perda de ozônio em áreas habitadas levaria às
temperaturas médias mais frias na superfície terrestre nos últimos mil anos.
Os pesquisadores dizem: “O conhecimento a respeito dos
impactos de 100 pequenas armas nucleares deveria motivar a eliminação das mais
de 17 mil armas nucleares que existem hoje.”
Imagens: Rex Features
https://br.noticias.yahoo.com/como-um-cientista-conseguiu-evitar-a-guerra-120943727.html
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