Goiânia (RV) - A Comissão Pastoral da Terra divulgou uma nota
pública intitulada "A
democracia não pode ser vilipendiada".
Abaixo, a íntegra:
"Neste grave momento de
crise generalizada no País, a Comissão Pastoral da Terra vem a público
juntar-se a tantas entidades e cidadãos e cidadãs de boa vontade, em defesa da
democracia e contra os retrocessos políticos e sociais que se querem impor de
forma autoritária ao povo brasileiro. Reafirmando seus valores éticos e
pastorais, baseados no Evangelho, a CPT rechaça o processo em curso que, em
várias frentes e sob aparatos de contorcida legalidade, visa impedir o mandato
da presidenta Dilma Rousseff, desastroso, sim, mas democraticamente outorgado
pela maioria dos eleitores brasileiros em 2014.
Tal situação nos deixa
profundamente revoltados. A CPT nasceu em plena Ditadura Civil-Militar para
apoiar a resistência e a luta por direitos dos camponeses e camponesas
trucidados pelo avanço do Capital no campo, por ela incentivado, como uma de
suas principais estratégias de poder. Fazemos parte da geração que com duras
perdas redemocratizou o País e que por isso não admite retrocessos
institucionais. Se o Governo Dilma não é bom, não cumpre o que prometeu em
campanha – e temos motivos suficientes para concordar com isso –, deve ser pelo
voto da maioria que ele seja removido, em 2018!
A crise política atual – em muito
fabricada por disputa espúria do poder do Estado, sob injunções econômicas
obscuras – é um duro revés. A partidarização de setores do Judiciário e da
Polícia Federal – que macula seus importantes avanços contra a impunidade – o
jogo baixo no Congresso conservador como nunca, os vacilos do governo central e
a distorção e espetacularização do noticiário pela mídia empresarial
hegemônica, têm constituído no conjunto um retrocesso amargo e
inaceitável.
Favorecidos pela conjuntura
econômica global, os governos de coalizão e pacto social liderados pelo PT lograram
avanços sociais inéditos e importantes para os mais pobres: ascensão social,
renda mínima, acesso ao consumo, à energia, à moradia, saúde (programa Mais
Médicos), ao transporte aéreo, à educação técnica e universitária, à água no
Semiárido, à afirmação étnica, etc. Na verdade, os avanços havidos só foram
possíveis porque os donos do Capital também ganharam, mais e muito. Mas os
governos não atacaram o âmago da desigualdade que se manteve inalterada, ou
pior ainda, cresceu. Não deram passos concretos para uma adequada e justa
reforma tributária, não propuseram uma reforma urbana para combater a
concentração fundiária urbana e uma melhor distribuição do espaço entre seus
habitantes. Praticamente paralisaram a reforma agrária deixando milhares de famílias
vivendo em acampamentos mais que precários. Pior, colocaram um freio violento
no reconhecimento e regularização das terras indígenas e no reconhecimento de
territórios quilombolas. E mais, se furtaram a propor instrumentos para
quebrar o monopólio da mídia em mãos de meia dúzia de famílias que determinam o
que o povo pode e deve ver e saber.
A crise atual, com o desembarque
do governo de quem sempre esteve no governo, como ratos fugindo de um navio a
naufragar, deve servir de lição para alianças feitas simplesmente para garantir
o poder, sem qualquer compromisso maior com o povo e seus direitos. Mas, se
tais alianças não mais se sustentam, não será um golpe civil (como em Honduras
e no Paraguai) que vai consertar a situação.
O que subjaz à crise, com fragorosa
omissão dos senhores dos discursos hegemônicos, é que para continuar ganhando,
o Capital agora quer mudar o governo, a qualquer custo, inclusive da
democracia, a qual despreza. Como não consegue pelas eleições, visam o “golpe
branco”.
A CPT, buscando ser coerente com
sua trajetória democrática de 40 anos, reafirma a imposição incondicional do
respeito às regras do jogo democrático, nos gabinetes e nas ruas. Por outro
lado, exige do Governo Federal a retomada e o aprofundamento das políticas que
atendam aos direitos dos mais pobres do campo e das cidades, com prioridade de
fato para as Reformas Agrária e Urbana. Inspirados na Palavra de Deus
(Provérbios 31,5), condenamos os que inebriados pelo poder se esquecem do bom
senso e das leis, e não são solidários aos direitos dos fracos e dos
pobres".
Goiânia, 05 de abril de
2016.
A Diretoria e Coordenação
Executiva Nacional da Comissão Pastoral da Terra
http://br.radiovaticana.va/news/2016/04/06/cpt_a_democracia_n%C3%A3o_pode_ser_vilipendiada/1220546
Nota do moderador sobre a materia em exposição
Julio Cesar Carneiro disse:
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