RIO - Pelo menos uma vez por mês, uma ambulância com a sirene
ligada atravessa as principais ruas de Copacabana transportando Ana Paula da
Costa Freitas, de 41 anos. O veículo é a única forma de ela sair de casa para
fazer exames e trocar a sonda por onde passam dietas especiais e medicamentos.
Ana Paula é surda e tem problemas físicos e neurológicos desde os dois anos,
quando teve encefalite, uma doença neurológica. Em casa, Mariza da Costa
Freitas, de 69 anos, mãe de Ana Paula, montou uma verdadeira UTI. Na tarde de
quarta-feira, o trajeto entre um hospital no Leblon e a casa delas ficou mais
penoso. Viúva de um auditor fiscal do estado, ela não sabe ainda como pagará as
contas. Mariza e a filha estão entre os 137 mil servidores inativos e
pensionistas que não vão receber nesta quinta-feira.
Mariza tenta manter a calma, e recorre à Constituição para defender seus direitos:
Mariza tenta manter a calma, e recorre à Constituição para defender seus direitos:
— Não pagar pensão alimentícia fere a dignidade do
ser humano. Meu marido trabalhou mais de 30 anos para o estado para dar uma
tranquilidade à família. Não quero chorar miséria, só quero um direito que é
principalmente da minha filha. A pensão é para manter o tratamento dela. É
questão de vida.
Só o gasto com o plano de saúde de Ana Paula chega
a R$ 1.590. O de Mariza, por ser um contrato antigo, sai por R$ 800. Por meio
dele, já tratou três tipos de câncer. Mas são as despesas com a filha que a
preocupam: dieta especial, 34 medicamentos e cuidadoras, sem contar os gastos
com luz. São cerca de R$ 12 mil para “mantê-la viva”, diz a mãe:
— Nós pensionistas estamos passando por humilhação.
Não temos voz, por isso não temos vez. Não pode atrasar os salários de 55% dos
inativos e pensionistas. Espero que o governo entenda que a minha voz
representa a dos demais que ficaram de fora.
A ginecologista Eloísa Fenton, com 37 anos de
dedicação ao serviço público, também ficou de fora do grupo que recebe hoje. A
médica trabalhava no Instituto de Assistência dos Servidores do Estado do Rio
de Janeiro (Iaserj) e, em 2001, sofreu um AVC. Eloísa continuou dando plantões
até 2004, mas foi obrigada a se aposentar por causa das sequelas.
Sem poder pagar um plano de saúde com o salário que não chega a R$ 2.500, Eloísa, hoje com 67 anos, sempre contou com a ajuda dos colegas de profissão para o atendimento médico. Precisa arcar com custos dos remédios para diabetes e hipertensão, que chegam a mais de R$ 400 por mês. O quadro se agravou no começo deste ano depois que o estado mudou as datas de pagamento. Agora, com a adiamento do pagamento de março, a médica está sem saber o que fazer:
— É um desrespeito com o servidor que se dedicou
tanto. Trabalhei muito para ter que passar por isso. Não adianta o aposentado
gritar, reclamar. Quem está trabalhando faz greve. O que um aposentado pode
fazer?
TRÊS FILHOS DESEMPREGADOS
As contas da casa passaram a ser pagas com atraso e
cartas de cobrança começaram a chegar. Com três filhos desempregados, vítimas
da crise financeira do país, Eloísa tornou-se arrimo de família:
— Já estou as contas atrasadas. A de luz venceu dia
11. Vai ser assim com todas. Não posso ajudar meus filhos e nem eles a mim.
Por causa do AVC, Eloísa ficou com sequelas motoras
e para caminhar usa uma bengala. Ela ainda arca com os custos da fisioterapia,
tratamento do qual não pode abrir mão sob pena de aumentar as limitações.
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/rio/sem-dinheiro-familias-do-rio-nao-sabem-como-quitar-as-dividas-19081715#ixzz45nZow3E9
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