Aparecida (RV) – Encerrou-se ontem em Aparecida, SP, a 54ª
Assembleia Geral (AG) da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, CNBB. No
último dia, a Missa de encerramento na Basílica Nacional presidida por Dom
Sérgio da Rocha, Arcebispo de Brasília e Presidente da CNBB e concelebrada pelo
Vice-presidente, Dom Murilo Krieger e o Bispo auxiliar de Brasília e Secretário
Geral, Dom Leonardo Steiner.
Depois, no Centro de Eventos
Padre Vitor Coelho, realizou-se a cerimônia de conclusão dos trabalhos. Pedimos ao Arcebispo de
Diamantina, MG, Dom Darci José Nicioli, que até poucos dias era o bispo
auxiliar de Aparecida, que nos fizesse um balanço dos trabalhos desta
Assembleia. Ele fala sobre a retomada das indicações do Concílio Vaticano II
apresentadas no documento final sobre os leigos e também sobre a crise
brasileira.
Dom Darci:
Há muito que nós abandonamos aquela mentalidade nós e eles, porque partia de
uma eclesiologia piramidal. Estamos recuperando aquilo que foi orientação do
Vaticano II e todo esse espírito do Vaticano II com o Papa Francisco está
revivendo em toda a Igreja e também na Igreja do Brasil. A eclesiologia de
comunhão: a partir do Batismo todos nós temos o nosso lugar e a nossa
responsabilidade na Igreja. É sobre isso que fala este documento, Leigos e
leigas na Igreja e na sociedade, para serem luz do mundo e sal da terra. Este é
o foco que o documento nos traz que não é uma novidade, mas eu acredito que nós
pontuamos tudo isso para que não esqueçamos as conquistas já havidas. E enfim, que
elas continuem sendo colocadas em prática. O leigo e a leiga participantes da
Igreja em igualdade de condições na responsabilidade de continuar a obra de
Nosso Senhor Jesus Cristo não voltando-se somente para a sacristia, não ficando
preso dentro das quatro paredes de uma igreja , mas uma Igreja que está nas
ruas – como o Papa tem pedido: para que os leigos assumam suas funções na
política, na sociedade, construindo a casa comum, fazendo com que nós mudemos,
por exemplo, no Brasil, essa mentalidade terrível do levar vantagem em tudo, a
fim de que nós de fato nos preocupemos com o bem comum. E cada um é responsável
neste sentido. Olha o momento político que estamos vivendo. Então nós somos
chamados a dar um testemunho cristão nesta situação toda.
RV: Que sentimento tem como
brasileiro?
Dom Darci:
É um momento crítico, nós falamos tanto de crises, e é verdade. Crise política,
econômica, crise das instituições, mas na base de tudo isso esta de fato, que
nos temos tanto insistido, uma crise moral, uma crise de valores. Há uma
frustração geral, muitos acreditaram no “novo tempo”. Foi propagandeado que nós
já éramos um país do primeiro mundo e, de repente, descobrimos que havia muita
mentira nisto tudo. Então, isto está sendo cobrado, de quem mentiu. E quem mentiu
tem responsabilidade. A maneira de cobrar essas responsabilidades? Nós também
temos um ordenamento jurídico que reza como isso deve ser cobrado e de quem
deve ser cobrado e com qual intensidade isso deve ser cobrado. Então,
preservando as instituições, preservamos a democracia. Isso nos dá esperança. É
um momento difícil? É um momento difícil! Mas não perdemos a esperança. Porque
as instituições estão correspondendo e elas encontrarão, segundo ordenamento
jurídico, a saída para este impasse em que nos encontramos. E, partir dai, nós
sairemos desta crise muito mais maduros, muito mais adultos, como país. Já
estamos deixando aquela história, ‘ah, não falo de política, é coisa suja’. O
povo em geral aprendeu com todo esse processo o quão importante é ser político
no bom sentido, participar da sociedade, fazendo com que o bem comum esteja em
primeiro lugar e os privilégios sejam abolidos. Desta história que estamos
vivendo, sairemos como um país mais maduro e haveremos de construir juntos,
como brasileiros e brasileiras, com todas as forças vivas da sociedade atuando,
inclusive a Igreja, na construção de um Brasil melhor.
http://br.radiovaticana.va/news/2016/04/16/dom_darci_e_assembleia_da_cnbb_em_aparecida/1222875
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