Durante a visita ao Brasil em 2013, o papa Francisco esteve ao lado dos índios que lutam pela proteção da floresta. A Amazônia deveria ser preservada como um “jardim do mundo”, disse o pontífice. A mesma definição foi depois utilizada na revolucionária encíclica ambiental Laudato si’, mas ninguém podia imaginar, até pouco tempo atrás, que na verde imensidão brasileira pudesse realizar-se também uma experimentação pastoral sem precedentes na história da Igreja. A notícia é que o papa tem total intenção de superar o celibato dos padres e que o projeto piloto será realizado no “jardim do mundo”.
Que na Amazônia existam padres de fato casados quem escreve é testemunha ocular desde os anos 1980. Agora, na nova Igreja que Francisco quer construir, trata-se de superar as hipocrisias e os conservadorismos do passado para permitir que essa realidade venha à tona. Com transparência e audácia, Bergoglio quer transformar uma fraqueza pastoral, a escassez de sacerdotes na Amazônia, em elemento de inovação doutrinária e de expansão da mensagem de Cristo.
Depois da áspera confrontação interna durante o último Sínodo, a Igreja romana está à espera do pronunciamento definitivo do papa sobre as questões da família e, em particular, da espinhosa decisão de admitir os divorciados na comunhão eucarística. A fórmula “alemã” que permitiu a mediação vitoriosa de Francisco no Sínodo, ou seja, a descentralização das decisões e experiências, será provavelmente aprofundada e, pelo visto, estendida a outras questões. Vozes diversas afirmam, de fato, que Francisco já decidiu: o tema do próximo Sínodo será o celibato eclesiástico.
Vários elementos contribuem para chegar a essa conclusão, e o primeiro é a demonstração do coerente propósito do papa de realizar a agenda de seu mentor espiritual, o falecido cardeal Martini. O então arcebispo de Milão, jesuíta e líder dos progressistas na hierarquia, durante o Sínodo de 1999 dedicado à Europa pronunciou um célebre discurso em que listou as questões cruciais a serem enfrentadas pela Igreja por ele sonhada: “A carência dos ministros ordenados, o papel da mulher na sociedade e na Igreja, a disciplina do casamento, a visão católica da sexualidade, a práxis penitencial, as relações com as igrejas irmãs da ortodoxia e, mais em geral, a necessidade de animar a esperança ecumênica, a relação entre democracia e valores e entre leis civis e lei moral”. Não há dúvida alguma de que esta atualíssima agenda espiritual e política, já abundantemente adotada por Francisco, continuará sendo sua estrela-guia.
A falta de vocações e, por consequência, de sacerdotes é um problema grave no mundo inteiro e, em particular, nas imensas extensões da América Latina, onde os graves limites das igrejas locais e a “competição” de outras tradições religiosas estão encolhendo o catolicismo em índices nunca vistos. O bispo Erwin Kräutler, austríaco, presidente do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), é personagem bem conhecido na Amazônia e destinado a deixar uma marca profunda na história daquela terra.
Pastor resoluto e de grande personalidade, Kräutler opera na prelatura do Xingu, juntamente com 25 padres em um território de 368 mil quilômetros quadrados. Um ano atrás, ele escreveu ao papa recolhendo um antigo pedido dos bispos brasileiros: ordenar sacerdotes homens casados de comprovada virtude. Poucos dias antes do Natal passado, Francisco o recebeu no Vaticano, e o bispo se sentiu livre para relatar o conteúdo do encontro em entrevista à Radio Vaticana: “O papa me pediu propostas concretas em relação ao celibato eclesiástico. Ele quer agir na base do consenso: sublinhou, por um lado, que devemos ter coragem de falar e, por outro, que possamos começar em uma região com algumas tentativas finalizadas, nas quais os viri probati possam celebrar a Eucaristia” (...) “Estamos num ponto crucial, de não retorno. Nem o próximo papa nem aquele que virá depois dele poderão voltar atrás do que Francisco está fazendo hoje.”
Outro relevante personagem do catolicismo e da cultura alemã, o teólogo Wunibald Müller, em dezembro de 2013 escreveu ao papa uma carta aberta que foi publicada com destaque no site da Conferência Episcopal sob o título “Papa Francisco, abra a porta”. Bergoglio não respondeu e em abril de 2014 Müller insistiu com uma segunda missiva. Desta vez a resposta chegou e o jornal Süddeutsche Zeitung, um dos mais importantes da Alemanha, publicou em 4 de janeiro uma entrevista com o teólogo, que confirmou: “Eu pedi um abrandamento do celibato. Deveríamos ter padres casados, bem como solteiros, homossexuais ou heterossexuais” (…) “Francisco me agradeceu por minhas reflexões. Ele acha que minhas propostas não podem ser realizadas pela Igreja universal, mas acredito que ele não exclua soluções em nível regional. Ao bispo brasileiro Erwin Kräutler, Francisco já pediu para verificar se em sua diocese existem homens casados, de comprovada experiência, em condições de ser ordenados sacerdotes.”
Um célebre aforismo de Agatha Christie é que “um indício é um indício, dois indícios são uma coincidência, mas três indícios fazem uma prova”. É o que podemos inferir da entrevista que Norberto Saracco, pastor pentecostal argentino, amigo há muitos anos de Bergoglio, concedeu a Robert Draper, autor de uma matéria de capa dedicada a Francisco na edição de agosto de 2015 da National Geographic Magazine. Saracco, que encontrou o papa no Vaticano dois meses depois da sua eleição, conta que Francisco afirmou com firmeza “querer introduzir mudanças imediatas” em vários setores da Igreja, mesmo imaginando que assim “surgiria um monte de inimigos”.
O pastor perguntou ao papa se queria também remover o celibato e, com estas palavras, comentou a resposta de Francisco: “Se o papa conseguir sobreviver às pressões da Igreja e aos resultados do Sínodo sobre a família, acredito que depois estará pronto para pôr em discussão o celibato”. E ao jornalista estadunidense que lhe perguntava se essa era uma intuição ou o pensamento autêntico de Francisco, o pastor respondeu com sutileza: “Esta é mais do que uma intuição”.
*Reportagem publicada originalmente na edição 887 de CartaCapital, com o título "Padres casados no jardim do mundo"
http://www.cartacapital.com.br/revista/887/padres-casados-no-jardim-do-mundo
Nota do moderador sobre a materia em exposição
Julio Cesar Carneiro disse:
“Pedi
pelo mundo, pela paz…mas, tantas coisas…. A pobrezinha ficou com a cabeça
assim.... Pedi perdão, pedi para que a Igreja cresça saudável, pedi pelo povo
mexicano....e também, uma coisa que pedi muito, é que os padres sejam
verdadeiros padres e as irmãs, verdadeiras irmãs e os bispos, verdadeiros
bispos: como o Senhor nos quer. Isto pedi muito a ela, não? Mas depois, as
coisas que um filho diz à Mãe são um pouco secretas....”. Papa
Francisco, ao responder a uma jornalista sobre o que havia pedido a Nossa
Senhora de Guadalupe.
Para esse mundo
desordenado, e carente de amor verdadeiro e ordenado, o celibato, a castidade, seria
esse estado de vida contrária à natureza, impedindo ao homem e à mulher de
serem plenamente eles mesmos, isto é, homem e mulher. Sendo assim, que
vive nessa qualidade de renuncia por amor a Deus “tem sérios problemas”.
Para essa
modernidade o homem e a mulher tem que viver segundo seus instintos mais
primitivos, e não com um amor ordenado, fiel, pleno de verdade. Para esse mundo
doentio, e principalmente a Teologia da Libertação, o casamento, e a família é
algo muito fechado, ditatorial, que impossibilita da mulher ser livre, ser ela
mesma. Acontece que, a mulher tem e deve ser ela mesma na melhor das qualidades
possíveis, e não coisas, objetos sem vida como queira a ideologia comunista
doentia.
Os filhos deste
mundo têm mulher ou marido; mas os que são considerados dignos de ter parte no
outro mundo e na ressurreição dos mortos não têm mulher nem marido; pois não
podem morrer, porque são iguais aos anjos e são filhos de Deus, tendo já
ressuscitado” (Lc 20,34-36; veja também Mt 22,30).
O celibato é a
radicalidade do amor para com Deus. Celibato e casamento, não se tornam pleno,
porque vamos viver separado de ambos. Nem vamos servir um direito, e nem amar
outro de forma ordenada. Tudo precisa estar separado, ordenado por amor. Não existe
castração na escolha do celibato e da virgindade. O homem é cada vez mais
livre, ordenado quando escolhe a viver assim. Ela não deixa de ter sentimentos,
desejos, e vontades. Eles os têm. Mas, por amor Daquele que tudo deu, o imita
em tudo, porque soube a qualidade do amor dado por ele, quando nem merecia.
Se, há uma carência
de vocação, é porque o homem estar ainda voltado para seu próprio umbigo. Não
existe vocação para a eternidade, enquanto estivermos cheios de tesouros
humanos: “Onde estar teu tesouro, lá
estará teu coração”. O celibato, e virgindade nos ensina amar de
verdade, e não a usar o meu corpo para as minhas satisfações mais desordenadas,
como se fossemos um animal no cio. Um bicho sem alma.
A revista mente,
e manipula as coisas, para dá a impressão de que o Papa esteja realmente a
destruir o que Deus sempre desejou: “Aquele que quiser me seguir, renuncie a si
mesmo, tome sua Cruz e siga-me. Aquele que quiser salvar a sua própria vida vai
perde-la. Agora, o que quiser perder a sua vida por mim, e pelo Evangelho, a
encontrará”. Aqueles que desistem do celibato, é porque NÃO estavam
realmente preparados a dá sua vida pelo Reino de Deus. Ou, não tinham vida de
oração, de renuncia. Se, permitiram ser seduzidos, e arrastados pelos
sentimentos.
Agora, achar
que, saindo, e renunciando ao celibato para casar-se com uma mulher, as coisas
vão ser boas, ordenadas, realizadas? Engana-se quem pensa dessa forma. O
casamento é isso tudo. Mas, na minha primeira condição não fui fiel, como
assegurarei que na outra vou ser, quando mais mulheres bonitas estiverem a
jogar seu chame em mim? Somos todos os dias tentados a sucumbir as nossas
vontades mais ordenadas. Sozinhos, nunca vamos conseguir. Com Deus tudo
podemos.
Claro, são
homens que caem, e eu, sendo homem também, entendo suas dores e conflitos. Sou
casado há 16 anos. Separado há 4 anos, e vivo intensamente entre lutas e
renuncia, o celibato para todo o fim. O meu amor para com Deus tem que ser
verdadeiro, livre, e incondicional. Poderia estar nesse momento fazendo como
muitos homens separados fazem: Unindo-se a outras, ou outro. Mas, eu quero ir
até o final. O meu coração é uma chama de amor ardente por Deus. Mesmo doendo,
mesmo na solidão, eu quero amar de verdade. Não posso entregar o meu matrimonio
a satisfação de minhas vontades. Minhas vontades, eu a sujeito a Deus. Posso chegar a cair. Mas, sempre isso com o
consentimento de Deus para que cada vez mais me purifique, retirando de mim, as
arrogâncias e prepotências, para que me faça mais humilde, e que prove o meu
amor. Mas, eu não penso nisso. Quando chegar essa hora, a escolha sempre será
minha. O que posso dizer com firmeza nesse momento: Eu não quero viver para
Deus somente na metade, nos faz de conta, no mais ou menos. Eu quero tudo. Eu
quero o céu, que quero a Santidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário