quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Antes de abortar


Pouquíssimas chances de viver estão restando aos bebês com microcefalia. Por aqui e por ali leio que eles “choram demais”, têm o cérebro completamente comprometido, têm deficiência visual, são abandonados pelos pais, pelo governo e nem as almas querem encarnar naquilo.
A ciência e a medicina ainda não conseguiram demonstrar com exatidão como o vírus da zika afeta o cérebro do feto nem quando ele agiria, mas são capazes de prever que vida decente ele não terá e que será um “serumano” imprestável diante dos desafiantes caminhos de ser gente em nosso tempo.
Tomar a decisão do aborto parece ser a mais tranquila e menos dramática para todos, inclusive para a sociedade, que não terá de lidar com esse problema a mais.
Encarar, amar e fazer evoluir um filho nascido em desacordo com tudo o que se acha normal seria uma estupidez, quase uma ação bárbara diante a modernidade de corpos sarados à base de granola e malhação.
Embutidos na ação de gerar um novo ser estão desafios ocultos que empoderam –e fazem sofrer, evidentemente–, colocam convicções contra a parede e ensinam maneiras diferentes de encarar a realidade. Cada vez mais, porém, parece que o legítimo, o correto e o “descolado” é saborear apenas a bonança.
Milhares de pessoas convivem com deficiências bastante incapacitantes, em diversos níveis, no mundo. Um punhado delas, com apoio, com acesso a intervenções diversas desde o nascimento, com entendimento de suas necessidades, evoluem a ponto de ser quase aquilo que se espera em um porta-retratos de uma família perfeita.
Não cabe nestas linhas discutir o direito da mulher de tomar as decisões que melhor lhe convierem sobre o seu corpo e o seu ventre, mas a legitimação do arrasto de uma geração para o esgoto aflige quem habita a terra das ditas imperfeições físicas, sensoriais ou intelectuais.
Cada pai e cada mãe que abraçam um filho com deficiência, embora, potencialmente, abriguem alguma frustração na mente, amam cada centímetro de seus pés tortos, dão risada em algum momento com suas doidices, jamais o abandonariam à própria sorte.
O espanto e a tragédia da microcefalia têm gritado com muito mais força do que sentimentos de resiliência, de transformação de pingos de vida em cachoeiras de possibilidades de ser feliz e de promover felicidade.
Sem encorajar de maneira robusta e contundente as famílias afligidas, o ato de abortar como medida higienista da raça humana tende a ganhar mais e mais terreno, sempre resguardado pelo terror da incapacidade futura do bebê e do pânico de não ter uma fofura deitada no berço.
Defendo o livre arbítrio, mas não me conformo com a ocultação do outro lado, extremamente mais frágil, desta avalanche provocada por uma doença não totalmente mapeada, entendida e projetada. Não me conformo com o tom de piedade gerado em torno de quem decide seguir adiante e botar garras de bicho selvagem na defesa de sua cria “mal-acabada”.
Não, não gostaria de ter um filho microcéfalo cheio de limitações e que consumisse a maior parte do meu tempo, dos meus recursos financeiros e das minhas emoções, mas não pautaria uma decisão de ter ou não um bebê com deficiência severa em avaliações simplistas, mecânicas, individualistas, baseadas em medo, vaidade ou supostas incapacidades pessoais.

jairo.marques@grupofolha.com.br
http://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/2016/02/10/antes-de-abortar/?cmpid=compfb
Nota do moderador sobre a materia em exposição 



Julio Cesar Carneiro disse:

Viver NÃO é fácil para ninguém.  O que NÃO queremos é ter mais responsabilidades. Queremos mais espaços para respirar, ser livres, leves e soltos, sem estar presos a muitas coisas, ou pessoas. Enfim, desejamos estar em uma zona de conforto, nem que para isso, passe pela nossa cabeça a ideia de um paredão para eliminar os indesejáveis, os pesos de nossa vida. Desculpe-me, se estou sendo muito duro, e seco com a minhas colocações. Mas, a realidade é essa.

Sei que, para muitas mulheres, é difícil encarar tudo isso. E, ainda tendo o trabalho de carregar este peso sozinha, uma vez que, seus maridos, que poderiam auxilia-las nessa luta, covardemente as deixam por diversos motivos, e não tem a responsabilidade de serem homens de verdade, e assumirem a sua família.

Muito bem. Se, temos todas às essas realidades, MATAR não será a solução, para resolver os problemas, e nem eliminar o mosquito. Aliás, o inimigo é o mosquito, e não a criança. Por outro lado, estar mais que comprovado que o estado é falho, omisso, corrupto, e com certeza, não ajudará essas mães com que elas precisarem. Basta pesquisar na internet e veremos como o PT tem bloqueado ajuda a centro de referencias que tratam crianças com algum tipo de deficiência.

“ E, agora, quem poderá nos salvar?” – Respondo: Deus. Como Deus? – Nós, os que defendemos a vida, os que criticam a nossa postura de defesa, ou, os que apoiam o aborto como medida para diminuir as dores e os problemas dessas pessoas, poderíamos nos unir em uma corrente de solidariedade, saindo de nosso comodismo, do nosso mundinho fechado, e criar mecanismo de doação financeira, e ajuda humana para essas pessoas. É fácil falar. É fácil encontrar e ter ideias mirabolantes que somente ficam no papel. Mas, somos convidados a sair e colocar a nossa vida em serviço do próximo, onde ele se encontrar. Mas, onde estar Deus aqui nessa historia? – Respondo: Deus precisa inflamar o nosso coração com um amor verdadeiro e ordenado, para que estejamos dispostos a tudo ser e dá para os mais necessitados.

Sou apaixonado por homens e mulheres que dão a sua vida em atenção ao próximo. Homens e mulheres que saem de suas rotinas, de seus confortos, de suas vidas sem sentido, para dá sentido real a elas, em níveis extremos: Guerras, conflitos, epidemias de grade escala, sem nada a cobrar ou pedir. Tudo dá em atenção ao outro. Somente Deus pode inflamar o nosso coração com um amor puro. Amor de verdade que não olha para o outro, seja ele que for. Olha, e serve ao outro, como se estivesse fazendo a Jesus Cristo. E faz ainda com mais amor, mais amor, mais amor, amor e amor.

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